Os desafios das demissões voluntárias e da retenção de talentos nas empresas – Por:Nadjane Oliveira – Psicóloga e gerente de Operações do Grupo Soulan.

Os desafios das demissões voluntárias e da retenção de talentos nas empresas – Por:Nadjane Oliveira – Psicóloga e gerente de Operações do Grupo Soulan.

As empresas vêm enfrentando desafios relacionados a manter seus colaboradores não apenas motivados, mas principalmente comprometidos com a produtividade. Desde o ano passado, temos visto crescer o número de profissionais pedindo demissão ou procurando atividades que tenham mais propósito, flexibilidade e até benefícios que contemplem programas e cuidados com a saúde mental.

Hoje, profissionais com maior qualificação não ficam mais presos a trabalhos dos quais não gostam, o que tem gerado um aumento de demissões voluntárias. Essa tendência tem sido observada nos últimos anos em diversos países e, mais recentemente, ganhou o nome The Great Resignation nos Estados Unidos, que em tradução livre significa A Grande Renúncia.

No Brasil, esse movimento tem sido forte, sobretudo, entre os profissionais mais escolarizados e jovens, que passaram a abrir mão de seus empregos formais para buscar novos formatos de trabalho. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), compilados pela LCA Consultores, em 2022 esse cenário resultou em quase sete milhões de brasileiros pedindo demissão voluntária, o que representou um terço do total de desligamentos registrados no país.

Frente à situação, é preciso encontrar o equilíbrio entre a contratação e a integração das equipes para que se adaptem à nova realidade. Essa missão acaba recaindo sobre os profissionais de Recursos Humanos, que devem adotar formas mais progressivas de recrutamento e integração de pessoal.

Segundo pesquisa da Thomas International, líder global em ferramentas de recrutamento e análises psicométricas, que ouviu 904 tomadores de decisão na área de Recursos Humanos, em empresas com 250 a 5.000 funcionários do Reino Unido, EUA, Holanda, França, Bélgica, Canadá, Austrália, Malásia, Hong Kong e Nova Zelândia, quase dois terços dos tomadores de decisão de RH, precisamente 63% deles, querem evoluir e adaptar a maneira como se dedicam ao processo de recrutamento, com 64% acreditando que possam estar atrasados na adoção de uma cultura de talentos progressiva.

A pesquisa também identificou que os recrutadores reconhecem que a falha em desenvolver sua cultura de talentos pode resultar em prejuízos inestimáveis para as empresas. Entre os entrevistados, 37% dizem estar preocupados em “perder candidatos de alto potencial” e outros 38%, com o desperdício de dinheiro e recursos nos processos seletivos. E os profissionais de RH estão cientes de que precisam agir agora: 76% acreditam que têm menos de dois anos para evoluir sua cultura de talentos antes de começar a sofrer consequências competitivas ou financeiras.

Quando perguntados sobre qual é a abordagem mais eficaz para lidar com as deficiências atuais nesse sentido, quase metade dos profissionais de RH (48%) deseja implementar mais entrevistas presenciais, talvez devido à percepção de que esse tipo de entrevista facilita a avaliação das habilidades interpessoais. Eles acreditam que deixar de se encontrar pessoalmente com um candidato aumenta a probabilidade de um fit inadequado, sendo que o desejo por entrevistas presenciais sobe para 63% entre aqueles que fracassaram em uma contratação nos últimos dois anos.

No entanto, mesmo que tenham tido resultados ruins, as equipes de RH devem ter cuidado ao confiar apenas em reuniões presenciais. Como os últimos dois anos provaram, limitar seu grupo de candidatos apenas àqueles que podem participar de uma entrevista pessoal pode ser um passo em falso no momento em que os talentos são escassos.

Nesse caso, as tecnologias de RH são cada vez mais importantes, e os líderes da área classificam o uso de aplicativos de empregadores como a segunda tática mais eficaz para transformar suas abordagens. Com a escassez de talentos, as comunicações em tempo real são fundamentais e podem ser a diferença entre uma oportunidade aproveitada e uma perdida.

A terceira abordagem mais eficaz é o teste psicométrico (34%), que permite aos profissionais de RH avaliar comportamentos, personalidade, aptidão e inteligência emocional. Isso é vital, dada a forte ligação entre as soft skills e o tempo de produtividade – e, ao se valorizar em primeiro lugar tais habilidades, até mesmo o tempo necessário para contratar pode ser menor.

O caminho para reduzir os problemas e manter os talentos satisfeitos é criar uma cultura de talentos que não seja só focada na contratação – já que preencher uma vaga é apenas metade da batalha. Os primeiros dias de ingresso em uma nova empresa são fundamentais para que os funcionários se sintam bem e entendam os desafios de suas funções.

Um caminho para equacionar esse problema pode ser um onboarding bem realizado. Ainda de acordo com a pesquisa da Thomas, 65% dos profissionais de RH acreditam que colocam muita ênfase na atração de funcionários e que o processo de integração é negligenciado.

Isso é considerado um erro grave, já que a integração à empresa é crucial para levar os funcionários à produtividade no tempo ideal. Cerca de metade (47%) dos entrevistados entende que é possível melhorar o processo de integração apoiando os funcionários a alcançar o resultado ideal, em vez de fazer induções rapidamente. Enquanto isso, 39% acham que a integração poderia ser melhorada personalizando o processo com base nas características comportamentais e de personalidade de cada indivíduo.

Em resumo, o caminho para uma cultura de talentos progressiva está ao alcance de todos os negócios, mas é preciso ter vontade de evoluir. A transformação não precisa ser complicada e existem algumas etapas claras e fáceis de implementar que podem ser adotadas no curto prazo para começar a mudar as coisas. Que tal começar agora essa mudança?

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