Da invisibilidade à representatividade: superando desafios na liderança feminina – Por:Michelle Castro é Economista por formação, manager e apaixonada pelo mundo das executivas e tudo que envolve a moda, viagens e inovação. Para dar dicas, trocar ideias, viajar, descobrir, conversar com público ela cruiu o Mundo Executiva onde fala não apenas sobre aparência, mas também sobre ideias que envolvem o trabalho, gestão e crescimento profissional e como um todo.
A liderança feminina tem sido um tema cada vez mais discutido e valorizado nos últimos anos. Mas quem vive ou já viveu essa realidade, sabe muito bem dos desafios para alcançar a posição e, principalmente, se manter nela.
E posso falar com propriedade, já que trabalhei por mais de 14 anos nessa área e por longos 7 anos fui a única mulher em um time de 12 líderes. E os desafios foram muitos, começando pela minha formação em Economia, um curso onde apenas 10% dos alunos na sala de aula eram mulheres. As barreiras enfrentadas já começaram ai, com a certeza de não ser ouvida na mesma proporção que meus colegas homens. Vai ver que o tom de voz dos homens, por ser mais grave, ajudava, pensava eu, na mais genuína forma.
Quando iniciei a trajetória na área financeira, obviamente foi como assistente, um cargo boa parte ocupado por mulheres, pois sabemos fazer bem feito aquele trabalho que exige organização e não admite falhas. Mas eu queria ocupar um cargo que exigisse a minha capacidade intelectual e não apenas seguir um planejamento. Queria participar, trazer ideais, ser desafiada, propor sugestões para a área, mas quem naquele lugar estaria disposto a escutar uma assistente do financeiro?
Foi a partir daí que comecei a pensar em como poderia chamar a atenção de quem tinha esse poder e ser ouvida. E dois pontos foram fundamentais para desenvolver esse olhar assertivo e conquistar mais espaço. O primeiro, eu já sabia onde queria chegar e não importava o tempo necessário para isso, pois queria ocupar um cargo de liderança. E o segundo, comecei a observar quem já estava nesse lugar e entender o que eu deveria fazer para ser aceita.
Com isso, desenvolvi a minha própria técnica, um passo a passo para despertar o interesse no outro até chegar ao cargo de líder que eu tanto desejava. E quero compartilhar aqui, os 7 passos fundamentais que usei para conquistar esse lugar:
– Saber onde quer chegar: Saber onde você quer chegar é o principio de tudo. E eu tinha esse objetivo muito claro. Era competente nas entregas que fazia e amava a minha função, mas sabia que ser líder me colocava em posição de desconforto e desafio e isso, acredite, me dava brilho no olho. Por isso, tenha a clareza de onde quer chegar para então traçar o caminho a ser percorrido.
– Busque inspirações: Observar as pessoas que já ocupam esse lugar em que você deseja chegar é essencial para o bem e para o mal e aprender com os dois perfis. Por isso, a importância de observar e entender que, mesmo com o perfil diferente, ambas ocupam o mesmo cargo. Ou seja, o que elas têm em comum e que você também precisa ter para estar nessa mesma posição? Observe, pergunte, anote e comece a colocar em prática com o que está ao seu alcance. Lembro que tinha um diretor que eu admirava muito e na minha primeira oportunidade, no balcão do café, perguntei sobre a formação dele e qual livro ele recomendaria sobre liderança. Ele ficou surpreso com a minha pergunta, ganhei mais de 20min de conversa com as experiências vividas por ele e me presenteou com um livro no dia seguinte. Ponto para mim!
– Vista-se como se já ocupasse o cargo que deseja: Quando busquei inspirações, observando as pessoas que já ocupavam o lugar que queria chegar, entendi que existia um padrão na forma de se vestir, no comportamento, na comunicação, na postura e até no andar. Hoje eu consigo entender que se trata de um arquétipo, mas na época eu observei cada detalhe, anotei e comecei a praticar, afinal, se tratava de atitude, e um pouco de investimento no guarda roupa. E não esqueça que a minha referência eram figuras masculinas, pois não existiam mulheres em cargos de liderança naquela época. Logo, a alfaiataria foi a minha grande aliada, somada a uma postura mais masculina. E posso dizer que esses detalhes fizeram total diferença na minha caminhada e conquista.
– Enfrentando o preconceito: Infelizmente, o preconceito de gênero ainda existe em muitos ambientes de trabalho e na minha trajetória não foi diferente. Mulheres líderes podem enfrentar desafios adicionais como serem questionadas quanto à sua autoridade, serem interrompidas ou terem suas idéias menosprezadas. Além da certeza que somos frágeis e incapazes de tomar decisões firmes sem correr uma lágrima. Esse rótulo eu ouvia com todas as letras quase que diariamente. É importante ter resiliência e habilidade para enfrentar esses obstáculos, ao mesmo tempo em que se mantém focada em seus objetivos. Esse ponto foi o mais delicado e difícil que enfrentei porque anulei completamente meu lado sensível, por entender que as mulheres não tinham oportunidade para tal cargo porque tinham essas características. Isso era tão claro que preferi vestir meu lado masculino e abrir mão do maior diferencial que nós mulheres temos, a nossa sensibilidade e habilidade em lidar com as pessoas.
– O poder da comunicação: A comunicação eficaz é fundamental para liderar qualquer equipe ou organização. Mulheres líderes podem se beneficiar ao aprimorar suas habilidades de comunicação assertiva, aprendendo a se expressar de forma clara e direta, a fim de serem ouvidas e respeitadas. Além disso, é importante cultivar a capacidade de ouvir ativamente, valorizar as perspectivas dos outros e construir relacionamentos sólidos com sua equipe. Aprendi muito observando o quanto os homens eram práticos na comunicação e comecei a colocar isso em prática, mantendo o tom de voz e clareza nas idéias. Nós mulheres, antes de opinar, já carregamos um rótulo de falar demais, o que nos faz ser interrompidas ou nem ouvidas na maioria das vezes. Meu objetivo era mudar isso, mostrando na prática que temos essa habilidade de comunicar e trazer idéias enriquecedoras para o tema em questão. Por isso, esteja em constante aprendizado com conteúdos relevantes e técnicas para melhorar a comunicação.
– Inovação: Não faça parte do time de pessoas que faz mais do mesmo e isso independe do gênero. Fazer apenas o que foi contratado é escolher o caminho da manada e seguir o fluxo. Para ganhar destaque, visibilidade, ser ouvida e reconhecida é necessário fugir do óbvio e fazer muito além do que está no contrato. Inovar precisa fazer parte do seu profissionalismo sempre. É estar em constante busca por melhorias que farão a diferença para a empresa, independente da área em que atue. Certamente você deve pensar que a área financeira é exata e que não tem como inovar o tempo todo, basta seguir um manual e usar muitas planilhas. Mas saiba que inovar tem espaço para qualquer área e foi o que fiz. Com a equipe, consegui desenvolver um mecanismo para entregar o EBTIDA no último dia do mês e não mais 15 dias depois de encerrar o mês. Isso mesmo! No último dia útil do mês, mesmo que tarde da noite, a nossa equipe entregava para a diretoria e conselho o resultado aproximado, com margem de erro de 2%, no máximo. Esse foi o maior case que conseguimos e permanece na empresa até hoje. Ou seja, facilite a vida dos seus colegas, melhore o que for preciso na empresa e, para isso, esteja em constante sede por inovação.
– Inspirando e capacitando outras mulheres: Ser uma líder mulher pode servir como uma fonte de inspiração para outras mulheres. Ao demonstrar habilidades de liderança e alcançar o sucesso, você pode abrir portas para que outras mulheres também sigam seus passos. Incentivar e apoiar o crescimento profissional de outras mulheres é uma maneira poderosa de promover a igualdade de gênero no trabalho. E talvez a grande dica aqui é incentivar as mulheres para jamais entrar em disputa com os homens porque não estamos concorrendo para ver quem é melhor. Só queremos ter a oportunidade de mostrar o nosso talento, habilidade e capacidade de ocupar diferentes espaços, inclusive de liderança.
Apesar dos avanços, ainda existem muitos desafios e obstáculos enfrentados pelas mulheres que querem ser líderes. O preconceito de gênero, a desigualdade salarial e a falta de representatividade em certos setores são apenas alguns dos problemas que ainda precisam ser superados. É preciso entender que a nossa sensibilidade não significa fragilidade e sim um grande diferencial que temos e podemos usar a nosso favor como uma habilidade para aproximar, lidar com as pessoas e liderar. Por muitos anos eu abri mão desse meu diferencial para ser aceita em um time ocupado apenas por homens. A minha “lógica” de ter um perfil masculino para fazer parte foi fundamental para, de fato, fazer parte. Mas hoje, entendendo melhor o que nos coloca nessa posição privilegiada de ser mulher, vejo claramente que a liderança feminina, com todas as características que temos, é muito valiosa, necessária e capaz de fazer toda diferença.
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