“Fui promovida grávida”: mães contam como se tornaram símbolo de uma nova era nas empresas
Será o fim de um tabu? Dia das Mães traz reflexão sobre mudança de paradigma do mundo corporativo em relação à maternidade
Num país em que a mão de obra feminina representa mais de 54% da força de trabalho, praticamente metade das mulheres deixam seus postos profissionais dois anos após a licença maternidade, segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) com 247 mil mães entre 24 e 35 anos.
A pesquisa mostra, por outro lado, que esse gap diminuiu nos últimos dez anos. Impulsionadas pela agenda ESG, que exige uma mudança de postura das empresas em relação ao meio ambiente, às pessoas e à governança, cada vez mais empresas rompem o estigma de que gravidez e maternidade são sinônimos de menor produtividade no trabalho, uma notícia positiva para este Dia das Mães, celebrado em 14 de maio.
Para a Aperam South America, líder do setor de aços planos especiais e inoxidáveis na América Latina, valorizar a maternidade é fundamental para sua estratégia não só de promover a equidade de gênero como também de gestão de talentos. Gerente executiva de Desenvolvimento, Seleção e Inclusão com Diversidade da empresa, Layane Stela Dias Gomes conta como se surpreendeu ao ser promovida estando grávida de seu segundo filho.
“Eu tinha acabado de descobrir que estava grávida, meu diretor veio me convidar para essa posição. Com aquele viés inconsciente que é cultural, a primeira coisa que eu falei: ‘Mas eu acabei de descobrir que estou grávida. E ele me disse: ‘Isso não é problema, isso é solução!’. E o legal é que no nascimento do meu primeiro filho, tive quatro meses de licença, e, no segundo, seis meses. Então, essa tranquilidade, de saber que aqui consigo ser eu mesma, trilhar minha carreira e ser mãe, não tem preço. É valiosa”, comenta Layane.
Na Pottencial Seguradora, o movimento de valorizar as profissionais grávidas adquire cada vez mais relevância. Larissa Gonçalves, gerente de Remuneração e Benefício, conta como se sentiu ao ser contratada grávida.“Chegar na Pottencial gestante de três meses reforça que a companhia está alinhada com meu propósito de trabalho e valores pessoais. Meu desafio de estruturar a área de remuneração na Pottencial veio junto com o desafio da maternidade, ambos abraçados com muito amor e desejo de entregar sempre o meu melhor, como profissional e como mãe”, pontua Larissa.
Na visão da gerente, as mulheres despontam cada vez mais no mercado, chegando a cargos de liderança, e essas oportunidades proporcionam a possibilidade daquelas que alcançam esses postos de ajudar outras mulheres a trilharem caminhos de equidade, colaborando para construção de um espaço mais igualitário. “Atualmente, o mercado segurador e a Pottencial têm em seu quadro mais de 50% de mulheres. Por isso, vejo oportunidades para mulheres crescerem e terem suas habilidades ainda mais desenvolvidas”, incentiva.
Acolhimento gentil – Gestora de Trade Marketing na Drogaria Araujo, Danielle Julia da Silva teve duas boas notícias no mesmo dia: a confirmação da aprovação no processo seletivo e a descoberta da gravidez, em 2021. “Quando contei da gestação, a profissional do RH me recebeu de forma humana, gentil e solícita. No mesmo dia, a gerente de Marketing me chamou para uma conversa, me parabenizou e me deu uma aula de sororidade. Disse que a decisão sobre ficar com a vaga era apenas minha, pois eu já estava aprovada e a empresa não mudaria sua decisão. Eu estava empregada na época e podia simplesmente continuar onde estava, mas decidi topar o desafio na Araujo”, lembra.
Após a tomada da decisão, Danielle viveu um misto de emoções. “Tive insegurança sim, pois estava trocando o certo pelo duvidoso. Também não sabia se a gravidez seria tranquila, como seria conciliar a gestação com o trabalho. Enfim, foi muita novidade na minha vida ao mesmo tempo, o que provocou em mim um turbilhão de emoções. Sem dúvidas, a forma como fui acolhida pela Araújo foi determinante para minha decisão de trocar de emprego. Todas as pessoas com quem conversei foram humanas e gentis”, relata.
A gestora comenta que tem percebido mais oportunidades para as gestantes, o que considera animador. “As empresas estão abrindo mais espaço para essas mulheres, o que é muito bom, pois a gravidez está deixando de ser um tabu. Se a gestação é algo eliminatório em um processo, isso diz muito sobre a empresa e talvez este não seja o lugar ideal para se construir uma carreira”, analisa.
Tendência irreversível
Para David Braga, CEO da Prime Talent, não há outro caminho para as organizações. “Se cada vez mais abordamos sobre temas de ESG e diversidade na sua totalidade, somado ao intenso gap de profissionais qualificados que as organizações buscam para seus quadros, é inaceitável ainda nos depararmos com organizações que deixam de contratar mulheres pelo fato de estarem grávidas, ou consideram a gravidez um problema que afeta a performance. Tal tema precisa ser constantemente discutido desde os Conselhos de Administração das Cias e entre as principais lideranças”, afirma.
Segundo o especialista, diversas são as pesquisas, realizadas globalmente, comprovando que as mulheres (grávidas ou não) são mais empáticas, melhores em processos de coaching e mentoria, além de ter alta capacidade de influência, liderança e gestão de conflitos. “Ainda são versáteis, têm grande adaptabilidade e se destacam em trabalho em equipe, negociação e orientação para resultados. Também costumam ser mais otimistas que os homens e, pela capacidade de ser multifunção, atuam, com maestria, nas rotinas de cuidar do emprego, da casa e dos filhos”.
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