Americanas (AMER3) leva hoje seu plano à Justiça
Primeira versão da proposta de pagamento a credores ainda não tem o sinal verde dos bancos, que têm R$ 20 bilhões a receber
A Americanas (AMER3) deve apresentar à Justiça nesta segunda-feira a primeira versão de seu plano de recuperação sem ter chegado a um acordo com seus principais credores – os bancos detêm mais de R$ 20 bilhões das dívidas da varejista.
A expectativa é que a companhia leve ao juízo uma proposta que contempla um aporte de R$ 10 bilhões a ser feito pelos acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira -, a conversão de R$ 18 bilhões de dívidas em ações e a recompra de outros R$ 12 bilhões.
A companhia entrou em recuperação judicial em janeiro com endividamento de quase R$ 43 bilhões após relatar “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões.
Do lado dos bancos, o caso tem sido tratado como uma fraude, o que tem sido objeto de diversas ações judiciais desde janeiro.
O desenho do plano é parecido com o apresentado pela companhia aos bancos credores em fevereiro, exceto pelo tamanho do aporte, então proposto em R$ 7 bilhões, incluindo R$ 1 bilhão em empréstimo para capital de giro pela modalidade DIP (“debtor in possession”, que dá direito ao credor ficar em primeiro lugar na fila de pagamentos). Este dinheiro do DIP entrou no caixa da companhia em meados de fevereiro, para dar suporte à operação.
Depois das instituições financeiras rechaçarem a proposta de R$ 7 bilhões, considerada insuficiente, os acionistas acenaram com um aporte de R$ 10 bilhões. Apesar de a sinalização ter melhorado o ânimo para negociar, ainda não há acordo. A leitura foi de que o valor ainda segue abaixo do necessário para aplacar a crise da varejista.
É comum, em processos de recuperação judicial, que a empresa apresente uma primeira versão de seu plano e depois vá ajustando a proposta ao longo das negociações. Em geral, o consenso vai sendo construído aos poucos.
Por isso, não é um grande problema que o plano a ser apresentado nesta segunda-feira não tenha até o momento a aprovação dos maiores credores, os bancos.
No caso da Americanas, há outro obstáculo a ser vencido: a disputa que os bancos abriram na Justiça para apurar quem são os responsáveis pelo que consideram ter sido uma fraude na varejista. Um acerto entre as partes implicará uma acomodação dessa questão. Esse assunto já foi colocado na mesa nas últimas reuniões.
A varejista e os bancos credores seguem com reuniões isoladas para se discutir o caso, mas não foi marcada uma nova reunião com “simbolismo” – ou seja, um encontro com todo o grupo de bancos para ser apresentada uma nova proposta.
As instituições financeiras aguardam a sinalização de um aporte de R$ 12 bilhões, que até agora não foi dada. Na reestruturação da dívida, a Americanas é assessorada pelo Rothschild. Pelo lado dos acionistas, tem participado das conversas Roberto Thompson, sócio da 3G Capital. A Alvarez & Marsal trabalha para a companhia na recuperação judicial. Procurada, a Americanas não comentou.
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