Compromisso com a acessibilidade é caminho para um mundo melhor
Neste Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, especialista do Serpro fala sobre a importância da acessibilidade digital na constante busca por igualdade e inclusão
O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado a cada 21 de setembro, foi estabelecido em 1982 como um marco para sensibilizar a sociedade sobre os desafios enfrentados por pessoas com deficiência no Brasil. Com cerca de 45 milhões de brasileiros afetados por alguma forma de deficiência, de acordo com o IBGE, a data destaca a necessidade contínua de promover a inclusão e a igualdade.
A deficiência não é uma limitação intrínseca das pessoas, mas o resultado da interação entre as características individuais e um ambiente que pode ser mais ou menos inclusivo. Daí a importância de a sociedade trabalhar para garantir ambientes mais acessíveis onde todos possam participar plenamente da vida social, econômica e cultural.
E a acessibilidade não é completa se não se alcançar também a esfera digital. O acesso à informação e às oportunidades digitais é um direito humano básico e uma necessidade essencial em nosso mundo cada vez mais conectado. E essa é uma tarefa que o Serpro, organização pioneira da Tecnologia da Informação no país, conhece, pesquisa e realiza há décadas.
Nessa entrevista, conversamos com Sergio Kamache, Superintendente de Digitalização da RFB, um dos responsáveis pela evolução e consistência do trabalho com acessibilidade na empresa, além de estudioso na área. Ele fala sobre a relação do tema com a agenda ESG do Serpro, os investimentos da empresa na capacitação de seus desenvolvedores e na consolidação de uma cultura de acessibilidade no processo de desenvolvimento de software, e também da importância do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência para uma reflexão sobre o compromisso coletivo de construir uma sociedade mais inclusiva, onde todas as pessoas, independentemente de suas habilidades ou limitações, possam desfrutar de uma vida plena e significativa. Confira!
Quando o Serpro começou a se preocupar com o tema da acessibilidade em seus sistemas e soluções?
O Serpro sempre teve uma preocupação muito grande com a acessibilidade das suas soluções, com um histórico de bastante atenção a essa questão. Existe todo um arcabouço legal no Brasil que estabelece a acessibilidade como um aspecto obrigatório em soluções digitais. E esse arcabouço legal vem ficando cada vez mais robusto. Antes falava-se apenas em deficiência visual e agora ele já aborda incapacidades de várias naturezas, incluindo surdez e baixa audição, dificuldades de aprendizagem, limitações cognitivas, limitações de movimentos, incapacidade de fala, fotossensibilidade, bem como as que tenham uma combinação destas limitações.
A empresa vem, ao longo de sua história, desenvolvendo soluções que obedecem aos parâmetros de acessibilidade estabelecidos pelo W3C. O W3C é o World Wide Web Consortium, a principal organização de padronização da web.
No entanto percebemos que precisávamos de uma maior governança desse assunto. Essa governança passa tanto pela gestão de um processo de formação de desenvolvedores, quanto pelo alinhamento do que deve ser feito em todas as soluções para garantirmos, pelo menos, os aspectos básicos de acessibilidade em nossas soluções.
Dessa forma, podemos dizer que desenvolvemos uma preocupação cada vez maior em relação ao tema.
Quais são os principais fatores que amplificaram a atenção e o investimento da empresa em acessibilidade?
Temos realmente dado muita importância para esse assunto e eu posso dizer que essa atenção vem sendo reforçada pelo nosso desenvolvimento em dois tópicos de suma importância. O primeiro é a nossa crescente na pauta ESG (referente a meio ambiente, aspectos sociais e governança). Nosso projeto Ser ESG avança a passos largos e é muito natural que junto a ele cresça a preocupação com a melhoria da acessibilidade nas nossas soluções. Se somos uma empresa ESG, precisamos ser uma empresa inclusiva. Por outro lado, também temos alguns outros assuntos, que viemos estudando e desenvolvendo com o tempo, que nos despertaram para esse olhar diferenciado, esse olhar mais empático em relação ao uso das soluções. Destaco aqui o advento da UX (User Experience) no desenvolvimento das soluções.
À medida que fomos nos aprofundando nesse conhecimento, e começando a olhar para os sistemas que desenvolvemos com o olhar do usuário, e não do definidor, passamos a enxergar muitas necessidades de melhoria nas jornadas dos usuários das nossas soluções. Isso fez com que aprimorássemos esses sistemas para que tivessem cada vez mais uma melhor usabilidade. E usabilidade e acessibilidade acabam se confundindo. Não existe um sistema com boa usabilidade de verdade se ele não tiver boa acessibilidade.
Em resumo, a acessibilidade, uma preocupação histórica da empresa, vem se tornando um assunto com o qual nós estamos cada vez mais atentos por causa dessa sensibilidade em relação a experiência do usuário. E essa sensibilidade, em relação a experiência do usuário, conectada com a visão do projeto Ser ESG, faz com que a gente se preocupe mais com todos.
O que o Serpro está fazendo nesse momento para evoluir seu trabalho com acessibilidade?
Estamos trabalhando em diversas frentes, com várias ações em curso para melhorar a questão da acessibilidade nas nossas soluções. Estamos, nesse momento, em parceria com a Dipes e através da Supet, treinando mais de 500 desenvolvedores, promovendo uma ampla capacitação em acessibilidade que foi desenhada para perfis distintos, como gestores, líderes de projeto, scrum masters, analistas de requisitos, desenvolvedores front end e testadores. Já treinamos cerca 250 pessoas, planejamos treinar 500 funcionários até o fim de 2023 e planejamos treinar mais a partir do ano que vem. Isso para que todos partam do mesmo conjunto de conhecimentos na hora de concretizarmos acessibilidade nas diferentes soluções mantidas pelo Serpro. Isso é o mínimo que nós temos que entregar nas nossas soluções.
Além de treinarmos pessoas, nós também promovemos uma interessante pesquisa com o Parque Tecnológico de Brasília (a Biotic S/A), que lançou um concurso para receber recomendações de acessibilidade em relação ao design system do Gov.br, solução desenvolvida pelo Serpro e utilizada por vários entes do governo. Foram avaliadas todas as sugestões e o melhor conjunto de sugestões foi premiado pela Biotic. O Serpro recebeu essas recomendações a fim de implementá-las no design system do Gov.br, trabalho que está sendo conduzido agora e que pretendemos concluir até o fim do ano para que todos possam usufruir das melhorias apontadas. Com a melhoria do design system do Gov.br todo o governo terá ganhos automáticos em acessibilidade nas suas soluções.
Estamos construindo, também até o fim do ano, um processo de medição de acessibilidade para que possamos ter um Score de Acessibilidade de todas as soluções desenvolvidas pelo Serpro. Essa medição vai subsidiar a montagem de um plano de ação para melhorarmos soluções que porventura tenham espaço para serem mais acessíveis.
Vamos também fazer um trabalho junto com nossa área de negócio para verificar como estão a acessibilidade e a usabilidade de nossos produtos independentes. Precisamos construir jornadas para determinadas incapacidades, jornadas que favoreçam o uso dos nossos produtos independentes. Mais do que o cuidado com a acessibilidade básica, temos que pensar em jornadas diferenciadas. O Serpro pretende dar o exemplo em relação à acessibilidade nas soluções de governo.
Como você avalia a importância desta data que destaca a luta da pessoa com deficiência no Brasil?
Segundo o IBGE, pelo menos 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, número que representa quase 25% da população. E é por isso que esse dia é importante para uma reflexão, para fazermos um balanço do quanto a gente pensa o mundo em função das nossas capacidades ou do quanto a gente pensa o mundo em função da necessidade de todos. É um exercício de como temos que nos comportar na vida como um todo. Não podemos ter uma visão de mundo que contempla só as nossas necessidades. Esse é o grande exercício de empatia que a gente precisa fazer. É o que nos diferencia como seres humanos que vão efetivamente cultivar um mundo melhor para as próximas gerações.
Então eu vejo esse dia como um dia muito importante para celebrar não só a questão da acessibilidade, não só a questão do atendimento às necessidades especiais de diferentes pessoas, mas um dia para nos lembrarmos que o “eu” não é nada diante do coletivo. A harmonia nasce no momento em que abraçamos as diferenças.
Como a acessibilidade digital se relaciona com a transformação do nosso mundo em um lugar melhor para todos?
Eu acredito que, além de promovermos cada vez mais a abordagem da experiência dos usuários nas nossas soluções, a gente precisa ter mais contato com usuários com necessidades especiais. Eles nos ajudam a perceber o mundo através de aspectos que somente quem está naquela posição consegue ilustrar de forma mais efetiva.
Quero dizer com isso que, mesmo com todo o conhecimento acumulado acerca de acessibilidade, com todo o conhecimento com user experience, nada disso tem valia se não escutarmos devidamente as pessoas com suas diferentes necessidades.
Quando trocamos experiências com elas e começamos de fato a compreender como elas percebem o mundo, nós crescemos não só como profissionais provedores de soluções de software, mas também como seres humanos, porque passamos a ter uma compreensão maior das amplas dificuldades que as pessoas enfrentam.
E quando conhecemos essas dificuldades, percebemos que as nossas próprias dificuldades podem até ser pesadas, afinal de contas são nossas pedras, nossos desafios do dia a dia, mas a dificuldade do outro pode ser maior que a nossa. Todos estamos no mesmo barco, então só nos resta uma opção: ter empatia e ajudarmos uns aos outros. É o único caminho para o barco não ir a pique.
Então, do ponto de vista do trabalho de desenvolvimento de soluções no Serpro, eu acredito que a gente precisa se aproximar cada vez desse público para compreender suas especificidades. Porque em termos de acessibilidade a gente já pode garantir o básico só com as orientações da W3C. Só que as experiências de usuário adequadas para esses diferentes públicos, nós só conseguimos definir se nos aproximamos deles. Esse é um exercício que precisamos fazer com cada vez mais frequência.
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