Maturidade digital: mudança de mindset é o principal desafio das empresas, diz especialista
Amadurecer digitalmente depende de parâmetros culturais e não só tecnológicos. Virar essa chave pode levar a um crescimento cinco vezes maior em comparação a outras empresas
Já está provado que um ambiente de trabalho “mais maduro” do ponto de vista digital, além de potencializar resultados, traz a todos os envolvidos produtividade, redução de retrabalho e transparência em relação aos objetivos a serem conquistados. Tanto isso é verdade que as empresas B2B (as que negociam somente com outras empresas), na pandemia da covid-19, passaram a investir pesado em ferramentas tecnológicas e hoje 68% delas se sentem mais digitais do que antes, conforme aponta uma pesquisa da Opinion Box junto à Ploomes.
Na Br24, parceira da Plataforma Bitrix24 da América Latina, vem sendo registrado aumento das empresas que querem ser mais digitais, porém a maioria dos gestores tem dificuldade de definir o que é isso, conforme explica o CEO da empresa, Filipe Bento: “Tem quem acredite que ser mais digital é consumir tudo o que há de novo em termos tecnológicos. Há também pessoas que achem que basta ter uma internet de qualidade e pronto. Outros apostam na tecnologia como o único material necessário para o sucesso da transformação digital do negócio”. O CEO constatou que, mesmo com o avanço e o maior acesso a ferramentas modernas, a realidade é de baixa capacidade dos negócios se reinventarem digitalmente.
Filipe Bento, CEO da BR 24
Assim, ao explicar o que é “ser digital”, a empresa de consultoria empresarial McKinsey, fundada em 1926, pontua que seguir a moda não é o bastante: é preciso ter maturidade digital, o que leva a um crescimento cinco vezes maior quando comparado a empresas não optantes.
No Brasil, ainda segundo a consultoria, o nível de maturidade digital vem crescendo, inclusive a boa notícia é que o patamar está próximo ao dos líderes globais, mas ainda é grande a dificuldade em se manter digital. As 124 empresas de grande e médio porte avaliadas enfrentam obstáculos em quatro vertentes:
– Implemento de roadmaps específicos – só 10% das empresas estão conseguindo implementar mapas eficazes para guiar equipes ao longo de um projeto;
– Dados capturados e integrados via infraestrutura robusta, como por exemplo CDPs (Customer Data Platforms) ou DMP (Data Management Platforms), com capacidade de fornecimento de uma visão 360º sobre o cliente, geralmente utilizados para apoiar a tomada de decisões – 12% das empresas executam bem a prática;
– Retenção de talentos preparados para um modelo de negócio mais digital e analítico – 8% dos negócios estão preparados para isso;
– Mentalidade baseada em dados com o desenvolvimento de uma rigorosa cultura de tomada de decisões em nível tático, estratégico e operacional: 13% das empresas executam bem a prática.
Maior dificuldade está na mudança de mentalidade
Diante dessas informações, o CEO da Br24, especialista em ajudar os negócios a se tornarem mais digitais, elucida que a “mudança de mentalidade” é hoje a maior dificuldade das empresas na hora de atingirem a transformação digital por completo. “Nos nossos treinamentos, identificamos que, infelizmente, muitos líderes ainda não estão preparados para a mudança de mindset porque trata-se de um processo de configuração da mente, e a maioria das pessoas é avessa a mudanças”.
De acordo com Filipe, isso se dá porque há um certo desconforto de sair de um território aparentemente seguro, no qual a pessoa sente que tem total controle sobre ele, para ir em direção ao desconhecido. “Então, ela pensa: o melhor a fazer é ficar na zona de conforto, mesmo que, muitas vezes, a situação se mostre desconfortável, cheia de erros e falhas, clientes reclamando e retrabalhos constantes”.
Contudo, diferentemente do que a maioria imagina, o amadurecimento digital só será alcançado com as modificações de parâmetros culturais e não tecnológicos. “Ajustar-se às transformações digitais pode dar um pouco de dor de cabeça se não forem utilizadas as técnicas certas no processo de adaptação. Esse é o primeiro ponto que merece atenção, vez que se trata de uma circunstância que exigirá muito mais do que apenas mudança estrutural ou aquisição de equipamentos. No caso, toda estratégia da empresa deve ser repensada, e adaptada à nova realidade que o negócio esteja vivenciando, e isso engloba remodelação em toda a cultura dos colaboradores, com direito a auxílio na inclusão das novas tecnologias na rotina de trabalho”.
O segundo ponto de atenção, destacado por Filipe, é o desenvolvimento de um planejamento profundo, antes da ideia de maturidade digital ser colocada em prática: “Devemos lembrar que antes do fruto vem a semente. E não são poucas as empresas que, na ânsia de estarem perdendo clientes para concorrentes, fazem as coisas às pressas, colocando, como diz o ditado, o carro diante dos bois. Então, a programação deve conter os diagnósticos sobre as demandas internas.
Por fim, na transição de mindset para se obter a tão sonhada maturidade digital, Filipe compara a prática ao exercício físico ou até mesmo à meditação. “No começo, toda pessoa que está acostumada a só comer, deitar e ver televisão, se for sair para correr, por exemplo, sentirá falta de ar, dores nos músculos e nas articulações, fadiga, coração acelerado… Talvez ela pense: ‘isso não é para mim’. Mas, com o tempo, o corpo desse indivíduo se acostuma e, o que era difícil, acaba por se tornar um hábito. Nas empresas, isso não soa diferente: é necessário criar um forte padrão de mudança de mentalidade, que envolve aprendizado constante, para assim compreender ativamente o perfil do consumidor digital. São as pessoas e as informações no centro da estratégia, e não mais o produto ou o serviço oferecido”.
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