Resenteeism: empresas devem buscar soluções para ‘ressentimento corporativo’ que pode afetar os colaboradores
Psicóloga Fátima Macedo, CEO da Mental Clean, explica como o novo sentimento está afetando a saúde mental dos trabalhadores
Com as demissões em massa realizadas pelas big techs norte-americanas, consequência de um investimento apostando no pós-pandemia que não trouxe o resultado esperado, surgiu um novo sentimento nos colaboradores que permaneceram no Google, Microsoft, Meta, entre outras empresas da área, o chamado “resenteeism”.
O termo, algo como “ressentimento corporativo”, se tornou mais presente nos últimos meses e caracteriza aqueles que não gostam do emprego em que atuam, não escondem esse sentimento, mas não pedem demissão por incertezas com o mercado ou falta de outras oportunidades.
Nesse cenário, enfrentar esse sentimento entre seus colaboradores, tem sido um novo desafio para as empresas. “É diferente do ‘quiet quitting’, que ficou mais conhecido recentemente no Brasil e descreve os trabalhadores que fazem o mínimo necessário de seus cargos, escondendo sua insatisfação com o emprego. No entanto, os dois sentimentos têm graves consequências para os resultados da empresa e, também para a saúde mental desse profissional”, explica Fátima Macedo, psicóloga e CEO da Mental Clean, consultoria de saúde mental para empresas.
De setembro de 2022 a fevereiro de 2023, as empresas na área de tecnologia no mundo já haviam dispensado mais de 225 mil funcionários, segundo o site de rastreamento Layoffs. fyi . De acordo com a psicóloga, essas demissões geram uma sensação de insegurança na empresa que impacta na produtividade.
“O ‘resenteeism’ amplifica esse descontentamento com a empresa e faz com que o colaborador externalize isso, afetando, inclusive, o restante da equipe. Outros sentimentos, como de falta de reconhecimento e de não valorização também se ampliam, mas a pessoa não tem coragem de sair do cargo por insegurança financeira, por entender que as demissões sinalizam que o mercado está difícil e que não haverá chance de outro emprego, o que mantém um conflito mental que a consome e provoca ansiedade e estresse constantes, podendo chegar à depressão”, ressalta a CEO da Mental Clean.
Segundo Fátima Macedo, é fundamental que as lideranças identifiquem essas pessoas, pois além de estarem em sofrimento podem contagiar os demais colaboradores de forma negativa. “A liderança deve manter um diálogo aberto, exercendo a escuta e com uma política de boa comunicação dentro da empresa, proporcionando segurança psicológica aos colaboradores para que tal insatisfação seja explicitada e se coloque foco na busca de soluções”, enfatiza Fátima Macedo.
Mais que ações reparativas, a psicóloga chama a atenção para medidas preventivas na gestão de pessoas e no cuidado com a saúde mental. “As lideranças, junto com o RH e a área de saúde ocupacional, devem ter claro os ‘steps’ da pirâmide de Maslow aplicada ao trabalho e promover ações práticas de engajamento no trabalho e autocuidado com a saúde mental, estimular o compartilhamento de ideias e a comunicação não violenta, além de ficar atenta às formas de conversa entre os funcionários, avaliar relação entre demandas e times, e outras iniciativas que promovam um ambiente de trabalho mais seguro e satisfatório para seu time”, sugere.
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