Como mulheres podem trilhar caminhos mais inovadores na tecnologia? Por: Caroline Capitani é VP de Estratégia e Inovação da ilegra, empresa global de estratégia, inovação e tecnologia

Como mulheres podem trilhar caminhos mais inovadores na tecnologia? Por: Caroline Capitani é VP de Estratégia e Inovação da ilegra, empresa global de estratégia, inovação e tecnologia

De acordo com dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), de 2015 a 2022, o aumento da participação feminina no setor de tecnologia foi de 60%. Embora a informação seja animadora, ainda há muitos avanços que precisam ocorrer neste mercado na questão de gênero.

As barreiras enfrentadas pelas mulheres na área de tecnologia são multifacetadas, mas uma das principais está na questão da formação e ingresso. Tradicionalmente, elas têm sido sub-representadas em programas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) — o que resulta em uma menor quantidade ingressando em carreiras tecnológicas desde a base educacional. Além disso, há uma falta de referência e, consequentemente, a percepção social de que essas áreas são mais adequadas para homens.

Historicamente, as contribuições das mulheres neste segmento são inúmeras. O filme “Estrelas Além do Tempo” é uma excelente dica de como o cinema retratou e celebrou as contribuições femininas na tecnologia e na ciência. A produção conta a história real de três profissionais negras que trabalharam na NASA e desempenharam papéis fundamentais no programa espacial dos Estados Unidos durante os anos 1960. A narrativa inspira e destaca a trajetória de cientistas virtuosas que deixaram um legado duradouro.

Neste sentido, nós podemos trilhar caminhos mais inovadores na tecnologia buscando, principalmente, oportunidades de aprendizado contínuo, desenvolvendo habilidades técnicas e de liderança, mentoria, networking e desafiando os estereótipos de gênero que ainda permeiam o setor. A rede de apoio e de compartilhamento também é importante para a troca de experiências e para a progressão de carreira. Acredito também que a presença de mulheres palestrando em eventos de tecnologia estimula outras executivas a trilharem esse caminho, contribuindo para que elas se enxerguem nessas profissões, mas vale ressaltar que nem todas possuem o interesse ou ambição de ser uma executiva ou liderança e optam pela área técnica e é claro que não há problema nisso, desde que a pessoa esteja fazendo o que se sente bem.

Além disso, a inovação também pode ser uma aliada na carreira de tecnologia ao abrir espaço para novas ideias e abordagens, permitindo que as mulheres se destaquem com suas habilidades e contribuições únicas, além de auxiliar na criação de produtos e soluções mais abrangentes e eficazes, que atendam às necessidades de toda a sociedade.

No entanto, embora estejam acontecendo avanços, ainda há preconceitos e estereótipos de gênero, dificuldades de acesso à oportunidades de carreira e a existência em empresas mais tradicionais de uma cultura que muitas vezes não é inclusiva. Compactuo com a frase proferida por Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU Mulheres, que diz “apenas metade é uma parte igual, e apenas igual é suficiente”. Assim como o código é mais eficiente quando livre de bugs, a sociedade é mais próspera, humana e inclusiva quando livre de desigualdades de gênero — ambos exigem correções constantes e compromisso com a excelência.

É claro que os desafios podem ser superados por meio de medidas que promovam a diversidade e a inclusão, como a implementação de políticas de recrutamento e seleção mais inclusivas, programas de mentoria para mulheres na área de tecnologia, criação de ambientes de trabalho seguros e respeitosos, e incentivo à educação e capacitação desde a base, para que elas se interessem e sejam preparadas para atuar nesse setor. A empresa em que atuo, por exemplo, já tem medidas nesse sentido e possui 14 mulheres em posição de liderança, ou seja, 58% do nosso time de líderes são mulheres. Além disso, ao longo de 2023, 34% de todas as contratações para nossas áreas de entrega foram femininas — totalizando 22% de mulheres atuando em cargos técnicos.

Como mulher já presenciei diversas situações. Certa vez, por exemplo, estava ministrando um workshop sobre data science e algumas pessoas — especialmente homens — entravam na sala e saíam, achando que estavam no lugar errado. No imaginário delas, haveria um homem palestrando por conta do tema abordado. Diante disso, entendi que a reação dos participantes fazia parte de uma construção cultural que precisava ser ressignificada. A desconstrução dos estereótipos de gênero é uma responsabilidade coletiva que requer o envolvimento ativo de toda a sociedade, trabalhando juntos para promover uma cultura de igualdade, diversidade e inclusão.

Quando somos ensinadas e estimuladas com a certeza de que podemos ser o que quisermos ser, também estamos fortalecendo um mecanismo de empoderamento. Precisamos cada vez mais combater frases que reforçam a exclusão, tais como: “você deve ser uma exceção, porque mulheres geralmente não são boas em programação”; “é raro ver uma mulher liderando uma equipe de desenvolvimento”; ou “talvez você devesse considerar uma carreira mais adequada para mulheres.”

Como praticante da arte marcial Muay Thai, aprendi que no tatame a “luta” é pela minha saúde física e mental. Já na TI é pela inclusão de mais mulheres neste mundo. Em ambos os cenários, a presença do gênero masculino prevalece, mas é essencial entender que nós temos o poder e o direito de participar plenamente e que, sim, devemos ocupar cada vez mais esses espaços, que também são nossos. A verdadeira conquista virá quando houver igualdade de acesso e oportunidades em ambas as arenas.

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