Desenvolvimento tecnológico e sustentável dos portos nacionais é pauta da Intermodal South America
Em participação no evento, no painel “Inovação nos portos brasileiros: como endereçar o déficit tecnológico dos portos nacionais?”, o presidente da APS – Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini, destacou que o Porto de Santos, especialmente por sua relevância, que representa 30% do escoamento da produção nacional e tem fluxo diário de 80 mil pessoas, continua atrasado, se comparado a outros portos do País, pela falta de investimentos. “Nos últimos quatro ou cinco anos não houve investimentos em tecnologia, essencial para a busca de maior eficiência”.
Participaram do painel, a secretária executiva adjunta do Ministério de Portos e Aeroportos, Gabriela Costa; o presidente do Porto do Rio Grande do Sul, Cristiano Klinger; e Eduardo Valença, da Wilson Sons, que mediou a conversa.
Além disso, o presidente da APS mencionou que o maior desafio do Porto de Santos, atualmente, é ter uma infraestrutura que mire na tecnologia. Pomini ressaltou, entretanto, que alguns passos estão sendo dados no sentido de buscar mais inovação, em um investimento previsto de R$ 130 milhões para a contratação de serviços necessários de tecnologia e para receber o VTMIS (Vessel Traffic Management Information System, ou Operações do Sistema de Gerenciamento de Informações do Tráfego de Embarcações).
“Devido ao crime organizado, buscamos parcerias tecnológicas para auxiliar a Polícia Federal e a Receita Federal do Brasil no combate ao tráfico de drogas. Esse esforço trará benefícios operacionais para o porto, como exemplo, o uso de drones subaquáticos que, além de oferecer maior fiscalização nos cascos dos navios, vai ajudar nas operações”, detalhou Pomini.
Ele destacou também a necessidade de obter ferramentas que tragam ainda mais segurança para as tecnologias que serão implementadas. “Já foi constatado, por exemplo, que drones foram utilizados para levar drogas para embarcações específicas, isso faz com que tenhamos que adquirir, também, tecnologia anti drone, evitando, assim, o uso indevido de um equipamento que pode nos auxiliar bastante”, finalizou.
Rio de Janeiro em crescimento
O presidente da Portos Rio, Francisco Martins, revelou em entrevista à Intermodal que diversos investimentos estão previstos para os portos do Rio de Janeiro em 2024. “Além dos leilões que já são esperados, estamos investindo aproximadamente R$ 600 milhões em infraestrutura e segurança portuária. Esses recursos vão priorizar obras essenciais para nossos portos, como a dragagem e revitalização do Cais da Gamboa e o aprofundamento do canal principal do Porto do Rio de Janeiro para a passagem de navios 366 metros, possibilitando a entrada e embarcações maiores em nossos portos”, explica.
Segundo Martins, a administração vem investindo também em tecnologia e inovação para aprimoramento da segurança portuária, como a implantação do VTMIS – sigla inglesa para Sistema de Informação e Gerenciamento do Tráfego de Embarcações. “Aqui na Intermodal temos um exemplo do nosso monitoramento através de câmeras de vigia. Também estamos investindo na implantação do VTMIS, um recurso muito importante para a rotina portuária. Estivemos em Barcelona há pouco tempo na maior feira de conectividade do mundo, onde já alinhamos as bases de uma parceria para aprimorar nossos sistemas. O nosso desafio é tornar o Rio de Janeiro e Itaguaí portos de referência em segurança. Não daremos trégua a qualquer organização ou indivíduo que use os nossos portos como canal para atos ilicitos”.
Pecém
Importante terminal portuário da costa do nordeste brasileiro, o Complexo do Pecém (CE) também integra a grade de marcas expositoras da Intermodal South America 2024. Um dos destaques da companhia é o projeto do Hub de Hidrogênio Verde, projeto que prevê a instalação de uma unidade fabril que abrigará 1,12 GW de eletrólise de H2V após sua conclusão, com capacidade de produzir 190 quilotons de hidrogênio renovável e mais de um milhão de toneladas de amônia renovável por ano. A planta, a ser instalada no Setor 2 da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará, integra a Fase I da Cactus e está programada para iniciar suas operações em 2027.
“Essa feira é um dos principais eventos do setor que o Complexo participa. Aqui, podemos apresentar ao público nossos diferenciais, a nossa versatilidade como porto, a nossa integração à zona industrial e à ZPE Ceará e nossos projetos de sustentabilidade. Temos reuniões importantes para prospectar novas cargas e negócios para o Complexo do Pecém, o que pode trazer ainda mais desenvolvimento para o Estado”, destacou o presidente do Complexo do Pecém, Hugo Figueiredo. O Complexo do Pecém é uma joint venture formada pelo Governo do Estado do Ceará e pelo Porto de Roterdã que movimenta granéis sólidos, granéis líquidos, contêineres e cargas em geral.
Portonave
Diretamente da cidade de Navegantes, em Santa Catarina, a Portonave trouxe ao pavilhão do São Paulo Expo as últimas novidades e investimentos feitos no terminal. “A Intermodal é uma excelente oportunidade para interagir com nossos parceiros de negócios, os importadores, exportadores e armadores; assim como para fortalecer a imagem institucional da Portonave.
Portos Paraná
Nesta edição, a Portos Paraná trouxe à Intermodal uma maquete que replica integralmente os portos de Paranaguá e Antonina (PR). Quem visita o estande da companhia também pode ter uma experiência imersiva sobre como é estar na faixa portuária, mesmo estando aqui em São Paulo. “Talvez esse seja um dos grandes diferenciais deste ano, além de toda a nossa comunidade portuária aqui, que nos ajuda a construir e fazer deste um dos estandes mais movimentados da feira. Nós costumamos falar que a Intermodal celebra um momento de oportunidade de negócios entre empresas, autoridades portuárias e poder público, por isso, sempre fazemos questão de prestigiar o evento”, disse o diretor-presidente da Portos Paraná, Luiz Fernando Garcia.
Descarbonização na cadeia logística
A descarbonização na cadeia logística e as fontes alternativas de combustíveis também foram um dos assuntos no 2º Interlog Summit. A diretora presidente da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL), Marcella Cunha, falou sobre a tramitação no Congresso Nacional do Projeto de Lei (PL) que visa a regulamentação do mercado de carbono no Brasil.
O objetivo do PL é a criação de um sistema de compensação de emissões de carbono, com a obrigatoriedade da compra de títulos para aqueles que ultrapassarem as cotas estabelecidas, e o direito de venda de cotas no mercado para as empresas que não atingiram esse limite de cotas. “A expectativa é que a PL seja aprovada ainda esse ano, o que implicaria que o mercado de carbono esteja estabelecido em 6 anos no país. Isso significa que as empresas precisam estar prontas para uma reformulação total, principalmente na área de contabilidade. A ABOL tem acompanhado de perto a tramitação da PL em Brasília em prol dos nossos associados”, disse Marcella.
Marcella também destacou o papel da associação para a conscientização do setor de operadores logísticos em relação às práticas de ESG. A ABOL formou um Grupo de ESG para discutir e gerar um diagnóstico sobre essa relação com os operadores para incentivar investimentos neste sentido, em especial para reduzir as emissões de carbono. “O próximo passo é mapear um inventário para saber o nível de emissão de cada operador”, comentou ela.
Já o vice-presidente de Operações da FedEx Express Brasil, Guilherme Gatti, abordou o plano global da empresa para se tornar neutra em carbono até 2040. “Essa meta será alcançada como resultado de uma redução na emissão de carbono nas nossas operações e compensações obtidas por meio de outros canais e tecnologias”, afirmou Gatti.
Ele destacou a renovação e a eletrificação de parte da frota de caminhões da FedEX no Brasil e o investimento de 100 milhões de dólares na área de pesquisa da Universidade de Yale (EUA) para o desenvolvimento de novas tecnologias para capturar e armazenar carbono.
Outro operador logístico que ressaltou ações neste sentido de redução de emissões de carbono e fontes alternativas de combustíveis foi o head de Sustentabilidade da Bravo, Marcos Azevedo. Ele apontou que uma das apostas da Bravo em energias renováveis é o biometano para o abastecimento da frota. “O biometano tem muito potencial. Porém, ainda precisamos ultrapassar algumas barreiras para tornar o consumo mais abrangente por outras empresas, como o aumento no número de pontos de abastecimento”. O executivo revelou que a Bravo deve inaugurar em maio um ponto de abastecimento de biometano próprio na cidade de Paulínia. ”A ideia é incentivar o uso do gás também por outros operadores”, comentou.
Já o CEO Brasil e Argentina da DB Schenker, Luís Marques, falou sobre os investimentos na compra de biocombustível para abastecer as empresas parceiras de fretamento no modal aéreo e marítimo. “Em 2023, adquirimos 300 mil toneladas de biocombustível para este objetivo”, disse Marques.
Aliança Brasileira para Descarbonização de Portos (ABDP)
A 28ª Intermodal South America foi o local escolhido para que autoridades portuárias lançassem a Aliança Brasileira para Descarbonização de Portos, representando um ponto de virada histórico para os portos do Brasil. O projeto é uma extensão do sucesso da Aliança Espanhola, uma iniciativa que reúne portos há três anos para colaborar em ações de redução de carbono na cadeia marítima.
A iniciativa do programa partiu do Porto do Itaqui, quando no ano passado este estabeleceu uma parceria estratégica com a Valenciaport, tornando-se o primeiro porto público brasileiro a aderir a um projeto de descarbonização inovador. Agora, em conjunto com outros terminais portuários, o programa visa criar um plano de descarbonização nacional, o que representa um avanço audacioso e transformador em direção a um futuro mais sustentável para o país.
Importantes entidades, como o Porto do Itaqui, Porto de Suape, Portos do Paraná, Porto do Açu, Porto Sudeste, Fundação Valencia, ABTP (Associação Brasileira dos Terminais Portuários), ATP (Associação de Terminais Portuários Privados) e ABEPH (Associação Brasileira das Entidades Portuárias e Hidroviárias), firmaram o acordo. O evento contou com mais de 65 interessados de 37 empresas de todo o Brasil, incluindo organizações, sindicatos, associações de portos públicos e privados, ministérios dos portos, ANTAQ, entre outros.
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