Brasil pode ser o fiel da balança no campo do comércio agrícola, afirma Marcos Troyjo durante o 1º Fórum Econômico Brasil-Canadá

Brasil pode ser o fiel da balança no campo do comércio agrícola, afirma Marcos Troyjo durante o 1º Fórum Econômico Brasil-Canadá

O acordo de livre-comércio entre os países do Mercosul e o Canadá também foi um dos temas abordados durante evento que reuniu membros do governo, economistas e empresários

A relação bilateral Brasil Canadá é um match perfeito entre as oportunidades e os recursos necessários para temas como segurança alimentar e segurança energética. A afirmação foi feita por Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos BRICS, diplomata e economista, que participou do 1º Fórum Econômico Brasil-Canadá, realizado na Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), em São Paulo. Os avanços nas negociações do acordo de livre-comércio entre os países do Mercosul e o Canadá e as oportunidades de negócios entre Brasil e Canadá diante do novo cenário político brasileiro foram outros assuntos que marcaram as discussões entre especialistas brasileiros e canadenses durante o evento.

Com uma plateia formada por representantes do governo canadense e de empresas brasileiras e canadenses, as discussões priorizaram os temas mais relevantes para o atual momento do comércio bilateral entre Brasil e Canadá, que bateu recorde em 2022 e atingiu a marca de US$ 10,5 bilhões, um crescimento de 41% em relação a igual período de 2021. Ronaldo Ramos, presidente da CCBC, deu as boas vindas aos convidados e ressaltou a importância dos 50 anos de existência da CCBC.

“Há 50 anos representamos um número significativo de empresas e instituições que operam no Brasil e no Canadá de diversos setores da economia, como mineração, saúde, ciências da vida, infraestrutura, energia, agronegócios, cultura, turismo, logística, educação, alta tecnologia, IA e serviços financeiros. É um mosaico de setores que têm muita sinergia entre os dois países. Temos trabalhado por meio de missões comerciais, rodadas de negócios, criação de hubs para apoiar a internacionalização de empresas brasileiras e canadenses, e eventos como esse. Temos um trabalho alinhado com as embaixadas, agências de fomento e instituições nos dois países e principalmente com as pessoas que atuam nos dois países”, afirmou Ramos.

O atual estágio das negociações do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e o Canadá e as oportunidades de negócios nos setores de alimentos, mineração e infraestrutura estiveram no centro das discussões durante o evento. Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos BRICS, diplomata e economista, falou sobre o marco global no qual se inserem as relações entre o Brasil e o Canadá. De acordo com ele, a conjunção do aumento da população mundial e do crescimento econômico resultantes da expansão dos países emergentes é uma oportunidade extraordinária para o Brasil e o Canadá na construção de parcerias nos setores de alimentos, ou de atividades conjuntas no campo de mineração e infraestrutura.

“O Brasil tem papel preponderante em temas como segurança alimentar e segurança energética. Dos quatro maiores produtores de alimentos do mundo (China, Índia, EUA e Brasil), por exemplo, o Brasil pode desempenhar o papel de fiel da balança no campo do comércio agrícola. E se existe um casamento perfeito entre o potencial de absorção de recursos de infraestrutura e há disponibilidade de alocação de capital, sobretudo por parte de investidores institucionais, isso é refletido na bilateral Brasil Canadá. É um match perfeito entre as oportunidades e os recursos necessários”, observa.

“O acordo Canadá Mercosul é outro ponto muito importante. Precisamos entender que os acordos comerciais deixaram de ser sobre tarifas e cotas, mas sim de investimentos ou de associações econômicas. O grande core dos acordos é a coincidência de objetivos para o seguimento de determinados padrões de respeito como propriedade intelectual, regras ambientais, compras governamentais. Ou seja, esses padrões comuns são o que caracterizam os acordos de quarta geração e que devem pautar os acordos entre o Brasil e o Canadá”, pondera.

Pedro Bório, Embaixador do Brasil no Canadá, ressaltou que as relações políticas entre os dois países voltaram a acontecer com mais fluidez no pós-pandemia e destacou o encontro recente entre o presidente Luís Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, na cúpula do G7, como um dos principais acontecimentos para acelerar as negociações.

“Acreditamos que as conversas podem avançar ainda mais após o período da pandemia. É importante que as empresas canadenses possam trazer parceiros comerciais para conhecer a realidade brasileira, e a abertura dos escritórios comerciais da CCBC em outros estados contribui significativamente para isso. Temos laços muito sólidos com a província de Alberta e as províncias do leste do Canadá. Recentemente fechamos acordos com Quebéc. As perspectivas são enormes e existem várias oportunidades inexploradas para os dois países e a CCBC pode ter um papel central nesse processo de aproximação e negociação”, avalia.

Emmanuel Kamarianakis, Embaixador do Canadá no Brasil, destacou a importância do comércio bilateral entre os dois países e lembrou os investimentos realizados pelos dois países. “A CCBC foi essencial para a conquista de todos os resultados positivos entre os dois países, que são líderes globais em muitos setores como agricultura, mineração, aeroespacial e tecnologias limpa. O Canadá reconhece o Brasil como força econômica relevante na América do Sul”, disse. “Temos uma longa parceria de negócios em áreas globais, como defesa e segurança, saúde, mineração, ciência e tecnologia, e inovação e queremos estreitar ainda mais os laços com o Brasil”, acrescenta.

David Verbinski, Cônsul Geral do Canadá no Rio de Janeiro, chamou a atenção para a importância do trabalho conjunto da CCBC e do governo canadense com parceiros públicos e privados para reforçar as agendas referentes a segurança climática e a segurança alimentar. “Estamos comprometidos em criar parcerias comerciais e isso inclui negociações em curso para o acordo de livre comércio com o Mercosul, bem como a agenda de diversificação comercial. A medida é essencial para trabalharmos com parceiros comerciais públicos e privados para abordar questões críticas como segurança climática e alimentar. O Canadá continua dedicado a isso e reunindo líderes da indústria para compartilhar ideias”, afirmou.

David também apontou a importância da abertura dos Chapters (escritórios locais) pela CCBC em vários estados brasileiros como uma ação importante para ampliar as conexões com empresas em diferentes regiões do Brasil. “O objetivo de continuar promovendo uma relação econômica robusta e dinâmica entre os dois países é também para que contribua para o desenvolvimento sustentável, a criação de empregos e o bem-estar da sociedade. Com o apoio da CCBC podemos desbloquear todo o potencial da relação econômica do Brasil com o Canadá”, resumiu.

Painel Tendências e Perspectivas Brasil Canadá

Randall Bartlett, sênior director of Canadian Economics do banco Desjardins, abriu as discussões do painel sobre Tendências e Perspectivas Brasil-Canadá. Ele apresentou dados recentes sobre o cenário atual da economia canadense e falou sobre a decisão do Banco do Canadá em elevar sua taxa básica de juros em 25 pontos-base, a 4,75% ao ano, em níveis que não eram registrados desde a crise global. Ele explicou que a decisão do Banco do Canadá poderá favorecer a retomada do crescimento em 2024 e que aguardam um novo aumento em julho. De acordo com Bartlett, a inflação deve diminuir no Canadá de forma gradual ao longo de 2023, favorecendo a retomada das atividades econômicas.

Rodolfo Margato, vice-presidente de pesquisas econômicas da XP Investimentos, disse que Brasil e Canadá estão bem posicionados em relação ao cenário mundial em 2023. Margato fez uma exposição sobre a economia brasileira e as maiores economias mundiais e ainda discorreu sobre a exportação de commodities. De acordo com ele, o volume demandado em alimentos e metais continua sólido. E à despeito de turbulências no cenário internacional das maiores economias, 2023 ainda é um período de ajuste para o Brasil e para outras grandes economias, de acordo com Margato.

Maria Cristina da Silva Dias, gerente do departamento de interlocução avaliação e estudos de indústria e comércio exterior do BNDES, apresentou o trabalho de apoio do BNDES às empresas exportadoras, garantindo a competitividade das empresas brasileiras no mercado externo, e falou sobre o BNDES Garantias e as operações de pós-embarque.

Painel Perspectivas na Relação Comercial Brasil-Canadá

Na segunda parte do Fórum, foi realizado o painel Perspectivas na Relação Comercial Brasil-Canadá, com moderação de Henrique Palma, Head of Canada Desk da KPMG, para a troca de ideias e discussões a respeito dos desafios comerciais e do apoio da CCBC aos projetos de empresas brasileiras no Canadá e canadenses no Brasil. Participaram Rodrigo Fonseca, sócio da FSL Advogados e Presidente do CAM-CCBC, Wilson Borges, Head of External Affairs & Land Management da Lundin Mining Corporation, Catharina Pires, Diretora de Corporate Affairs Latam da Nutrien Soluções Agrícolas, Arthur Mota, Diretor Sr. Economist & Strategist do BTG Pactual, Camila Covello, Partner and Chief Growth Officer da Quality Global Alliance.

O Fórum faz parte das comemorações dos 50 anos da CCBC, que contará ainda com mais dois eventos: o Canadá Day, nos dias 3 e 4 de julho, e o Summit Brasil-Canadá em 18 e 19 de setembro.

Sobre a Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC):

A Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) é uma organização independente, mantida pelo setor privado e sem fins lucrativos, fundada em 1973. Há 50 anos, a CCBC aproxima pessoas, empresas, instituições públicas e privadas de vários setores nos dois países. Com escritórios no Brasil e no Canadá, a instituição atua na construção de conexões para alavancar negócios, investimentos, estimular a inovação, o intercâmbio tecnológico e cultural bilateral.

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