Mulheres seguem em desvantagem no mercado de trabalho, mas mercados promissores podem ser aliados no combate à desigualdade de gênero
De acordo com divulgação recente da PNAD Contínua, a taxa de desocupação média do último trimestre de 2022 foi de 7,9% – o menor nível para o período desde 2014, quando foi de 6,6%. Na perspectiva de gênero, entretanto, as mulheres seguem com desocupação acima da média nacional. A pesquisa mostra que a taxa de desocupação foi de 6,5% para os homens e 9,8% para as mulheres no 4º trimestre de 2022.
Esse índice acompanha a tendência dos últimos anos. Entre 2019 e 2020 o país teve uma queda de 10% no número de mulheres empregadas (um total de 4,2 milhões de trabalhadoras), enquanto a queda na ocupação entre homens foi de 7,9%, conforme destaca o estudo “Retrato do Trabalho Informal no Brasil: os desafios e caminhos de solução”, publicado em 2022 pela Fundação Arymax e B3 Social.
As desigualdades de gênero também chamam a atenção entre aqueles que estão ativos no mercado de trabalho.
Levantamento da consultoria IDAdos, com base na PNAD do IBGE, divulgada no início de 2022, apontou que as mulheres ganham cerca de 20% menos do que os homens no Brasil e a diferença salarial entre os gêneros segue neste patamar elevado mesmo quando se compara trabalhadores do mesmo perfil de escolaridade e idade e na mesma categoria de ocupação.
Diferentes abordagens podem ser propostas para combater essas diferenças, começando por ajudá-las a equilibrar as responsabilidades que precisam cumprir com seu trabalho e sua família.
“A concessão de licença-maternidade, arranjos de trabalho com horários flexíveis ou a provisão de instalações de cuidados, seja para crianças ou idosos podem fazer a diferença na entrada e permanência de mulheres no mercado de trabalho. Outras ações podem estar relacionadas à mudança de políticas e padrões culturais das organizações empregadoras, como é o caso do estabelecimento de cotas a serem preenchidas por mulheres ou ainda políticas salariais afirmativas de equiparação da remuneração e outros programas de igualdade de gênero” – explica Vivianne Naigeborin, Superintendente da Fundação Arymax.
O Estudo “Inclusão Produtiva no Brasil: evidências para impulsionar oportunidades de trabalho e renda”, lançado pela Fundação Arymax em parceria com o Instituto Veredas no final de 2019, já apontava que, mesmo diante de um cenário desafiador para geração de empregos, era possível identificar oportunidades em setores que devem experimentar crescimento ao longo dos próximos anos. É o caso dos setores de tecnologia, saúde e cuidados. O mesmo estudo indicava que tais setores podem ser especialmente estratégicos para populações sub-representadas no setor produtivo, sendo, portanto, uma oportunidade para a promoção do aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e do combate à desigualdade gênero.
O SETOR DE TECNOLOGIA
O setor de Tecnologia da Informação (TI) apresenta perspectivas de grande aumento da demanda em pouco tempo. Essa tendência de crescimento destoa de setores mais tradicionais da economia, que têm apresentado tendência de estagnação ou encolhimento.
Apesar das recentes ondas de demissões, o setor continua aquecido e segue sendo uma oportunidade para a inserção de profissionais no mercado de trabalho. Dados da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação) mostram que há um déficit anual de mais de 100 mil talentos em tecnologia desde 2021, e ressaltam a necessidade de incentivar mulheres no setor a fim de formar profissionais de modo a acompanhar essa demanda.
Diversidade no setor (Fonte Brasscom)
> Mulheres representam 51% da população brasileira. No mercado formal de trabalho (universo de trabalhadores com carteira assinada), no entanto, apenas 44% são do gênero feminino.
> No setor de tecnologia, as disparidades são mais evidentes, com apenas 39% de presença feminina.
> Sob o recorte racial, a disparidade no setor é ainda maior: apenas 11,6% do percentual de profissionais do setor são mulheres negras.
Fonte: BRASSCOM (2022), Relatório de Diversidade.
Esse retrato da diversidade de raça e gênero no setor aponta para a demanda por ações que levem ao aumento da empregabilidade de mulheres, negras e brancas, para atuação no setor. Nesse sentido, será fundamental o incentivo e capacitação dessas mulheres para atuação no setor.
Redução do gap de gênero em tecnologia por meio da educação
Diante deste cenário, a {reprograma}, uma das iniciativas de empregabilidade apoiadas pela Fundação Arymax, trabalha pela redução do gap de gênero no setor de tecnologia por meio da educação, oferecendo cursos gratuitos e intensivos de programação front e back-end para mulheres em vulnerabilidade econômica. O programa prioriza mulheres negras, trans e travestis, como forma de incluir minorias no mercado de tecnologia e promover a diversidade no setor.
“É interessante incentivar programas de treinamento para mercados promissores como o de tecnologia a adotarem um enfoque de gênero em diferentes níveis. Esse enfoque pode se dar em uma dimensão individual: na oferta de recursos para cobrir os gastos com o cuidado de crianças, ou de ajuda para negociar a participação da mulher no curso junto às suas famílias. Ou ainda, pode se refletir em uma dimensão social, abrindo espaço para que as mulheres compreendam a importância de sua participação no mercado do trabalho” – reforça Vivianne Naigeborin.
O MERCADO DE CUIDADOS
O aumento da longevidade como marca da transição demográfica em muitos países, como é o caso do Brasil, tem tornado cada vez mais evidente o fato de que a ampliação da área de saúde e cuidados será um imperativo para as próximas décadas.
O Estudo “Inclusão Produtiva no Brasil” destaca que, nessa área, incluem-se três tipos de cuidado: de saúde, doméstico e de educação. Atualmente, a maior parte do trabalho de cuidado no mundo é oferecido sem remuneração ou em condições de informalidade, especialmente por mulheres de grupos em desvantagem social. Entretanto, o aumento da taxa de dependência tem levado a um aumento na demanda por trabalho de cuidado pago.
Esse mercado é considerado uma importante fonte de renda no futuro, já que dificilmente pode ser substituído pelas tecnologias e robotização (OIT, 2019a). Segundo a OIT (2018b), a economia do cuidado pode gerar 475 milhões de trabalhos até 2030, e pode contribuir para uma maior inserção de mulheres no mercado de trabalho.
Entendendo o setor de cuidados como um pilar estratégico, não só para Inclusão Produtiva como para a sociedade, a Fundação Arymax apoia o grupo de pesquisa “Cuidando de Quem Cuida”, liderada pelo CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), cujo foco é compreender os desafios e as oportunidades do mercado brasileiro de cuidados domiciliares, principalmente com foco na geração de trabalho e renda para mulheres.
“O Brasil não pode e nem deveria subestimar a força de trabalho de suas mulheres. Com políticas e programas que priorizem a inclusão digna e equitativa das mulheres no mercado de trabalho, ganham não somente elas, mas também suas famílias, a sociedade e o país.” – finaliza a superintendente da Arymax.
A Fundação Arymax
A Fundação Arymax é uma instituição sem fins lucrativos criada em 1990 por Leon e Max Feffer, pai e filho, inspirada pelo preceito judaico da Tzedaká ou “Justiça Social”. Desde 2019, após um rigoroso processo de pesquisa pautado pelo uso de evidências, passou a atuar na causa da Inclusão Produtiva, apostando no poder transformador do trabalho para as pessoas e para a sociedade.
Assim, a Arymax mobiliza recursos privados para o desenvolvimento e fortalecimento de iniciativas sociais e organizações brasileiras que atuam na inclusão de pessoas em vulnerabilidade econômica no mundo do trabalho pela via do empreendedorismo ou da empregabilidade. E, mantendo vivo o legado de seus fundadores, apoia também organizações da comunidade judaica.
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