Flavio Camelier, vice-presidente de transformação digital da empresa no Brasil, conta como inovar em uma empresa com a marca tão forte
Grandes empresas inovam, mas não sem dificuldades. Na Coca-Cola Brasil, quando foi criada a área de transformação digital três anos atrás, o maior desafio era deixar de ser tão centrado em solução de negócios para as marcas e criar um olhar centrado nas dores dos consumidores e clientes da companhia.
“Com as dores no centro, as soluções começaram a ser consequência disso”, afirma Flavio Camelier, vice-presidente de transformação digital na Coca-Cola Brasil. Segundo ele, a partir dessa visão, a tecnologia entra de maneira efetiva na transformação do “core business”, criando maneiras de trabalhar que atacam de fato primeiro a dor.
Um exemplo recente desse movimento é que, com o impacto da pandemia, a empresa repriorizou esforços focando em iniciativas que de fato teriam a capacidade de “mover a agulha”, segundo o executivo. “Para isso, realocamos pessoas para as frentes de digital commerce e B2B, que é a conexão com os nossos clientes do varejo fragmentado. Essa realocação nos permitiu acelerar as curvas de implementação de certos projetos, como por exemplo a assistente virtual no Whatsapp para o pequeno varejo, assim como nos permitiu desenvolver novas capacitações e novas rotinas para acompanhar mais de perto o que estava acontecendo nesses canais digitais, com uma frequência de gerenciamento e ajustes de planos bem maior do que tínhamos antes da pandemia.”
Mudança de mindset em multinacionais
O vice-presidente de transformação digital na Coca-Cola Brasil comenta que mudar a mentalidade e internalizar as mudanças, dentro de uma empresa centenária, uma marca forte e tradicional, é um desafio. “Quando implementamos essas mudanças, inclusive físicas, no ambiente de trabalho, contamos com parceiros experientes nesse processo de transformação e nos abrimos para a mudança, porque entendemos que é o que vai nos fazer ser bem sucedidos, colhendo frutos dessa agilidade”, afirma Flavio.
“A empresa precisa abraçar o novo, se renovar para continuar sendo relevante para as pessoas.”Flavio Camelier, vice-presidente de transformação digital na Coca-Cola Brasil
A inovação, aliás, é uma prioridade da empresa e do negócio e, segundo o executivo, essa mentalidade foi um dos fatores que possibilitaram à companhia atravessar a crise dos últimos meses, causada pela pandemia do novo coronavírus. “O mundo está mudando e as empresas também precisam acompanhar esse movimento”, diz. E Flavio ainda descreve exemplos práticos de como isso tem sido feito na Coca-Cola Brasil.
Um deles é o investimento que a companhia tem feito em embalagem retornáveis nos últimos anos. “Além das garrafas de vidro retornáveis, que nunca deixaram de existir, há alguns anos temos em nossa linha as garrafas de PET retornáveis. Acabamos de lançar Del Valle Frut em versão garrafa pet retornável de 2 litros, que pode ser reutilizada até 25 vezes, no Amazonas – com previsão de expansão nacional no ano que vem”, exemplifica. “É o primeiro refresco em embalagem retornável do país, mais econômico para o consumidor e que gera menor impacto para o planeta, seguindo com nosso compromisso do Mundo sem Resíduos.” O executivo diz que a empresa também mudou as embalagens de Crystal, agora produzidas somente com PET reciclado, deixando assim de fabricar 400 milhões de novas embalagens por ano.
Metodologias e ferramentas para inovar
Desde a criação da área de transformação digital na empresa, a equipe tenta aplicar em seu dia a dia metodologias ágeis, fazendo uso de design thinking e Kanban. “Não de forma perfeita, mas já agilizou muitos processos”, diz o executivo.
“Diminuímos as reuniões e fazemos check in e check out semanal de equipe, revemos a cada quatro meses o nosso ‘camp’ e a gente usa esse processo de ciclos curtos para ir aprendendo e compartilhando os aprendizados com o sistema todo.” Flavio Camelier, vice-presidente de transformação digital na Coca-Cola Brasil
Segundo ele, o trabalho com grupos diversos é fundamental para o “refresh” de pensamentos e para entregar o que as pessoas querem no menor tempo possível. Além disso, a Coca-Cola Brasil fechou parcerias com startups e lançou uma aceleradora, um ambiente de incubação de experimentos criado para identificar, tangibilizar e validar novos negócios digitais vindos de ideias disruptivas dos funcionários.
A assistente virtual no WhatsApp para o pequeno varejo é um exemplo de solução criada com o midset ágil, com MVP, testada no mercado e depois escalada. “Já conseguimos comunicar a mais de 350 mil clientes sobre esse novo canal. No início do ano a gente tinha comunicado para não mais do que 30 mil. Hoje, já temos mais de 150 mil clientes que utilizaram mais de uma vez”, conta Flavio.
A companhia também fez investimento em parceiros de e-commerce, tanto com os que chama de “food aggregators” – iFood e Rappi, por exemplo – como com os supermercadistas online – Mercado, Pão de Açúcar e outros. “A gente também acelerou as ferramentas que possibilitam a digitalização do pequeno varejo, como por exemplo a Combo, que auxilia o comerciante a comunicar suas ofertas de refeições junto a bebidas da Coca-Cola para seus consumidores”, completa o vice-presidente de transformação digital na Coca-Cola Brasil.