Paulo Skaf considera os números preocupantes e afirma: “A epidemia de roubos no Brasil e a violência cotidiana deixam a sociedade assustada”
Os resultados da primeira Pesquisa de Vitimização Industrial, realizada pela Fiesp com 345 indústrias paulistas, em setembro de 2015, mostram que do total ouvido, 46,7% afirmaram ter sido vítimas de algum tipo de crime nos 12 meses antes do questionamento, e 64,6% foram vítimas de algum tipo de crime em qualquer momento. Os crimes ocorreram na sede ou filiais da indústria em 27,1% dos casos, e no transporte de cargas ou valores para 23,8% das empresas. De acordo com a pesquisa, no período, a perda estimada dessas empresas em faturamento foi de R$ 5,12 bilhões.
A pesquisa foi apresentada nesta sexta-feira (16/9) na sede da Fiesp e faz parte do Anuário de Mercados Ilícitos Transnacionais – 2016, publicação lançada pelo Observatório de Mercados Ilícitos da Fiesp (OMI), desenvolvido pelo Departamento de Segurança da Federação (Deseg).
O presidente da Fiesp e do Ciesp, Paulo Skaf, considera esses números preocupantes. “Nesse patamar, os custos das empresas com segurança privada e seguros são obrigatórios e estão a cada dia maiores, elevando assim, o custo da produção e impactando a competitividade dos setores em relação a regiões ou países que não possuem vitimização tão elevada”.
“Além disso, esses fatores podem desestimular a ampliação dos negócios existentes e abertura de novas unidades. Garantir a segurança e reduzir riscos de vitimização da indústria é essencial para que aumente o investimento e o empreendedorismo”, afirma.
Mercados Ilícitos
Com o objetivo de analisar os efeitos nocivos da criminalidade sobre a indústria paulista e o real impacto dos mercados ilícitos na renda, empregos, impostos e competitividade das empresas, o Deseg desenvolveu o Anuário 2016: Mercados Ilícitos Transnacionais em São Paulo.
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A análise considera 9 setores da indústria paulista – alimentos, automóveis, brinquedos, eletrônicos, higiene e perfumaria, medicamentos, químicos, tabaco e vestuário – e revela que o mercado ilegal movimentou R$ 13,2 bilhões em 2015. Com isso, deixaram de ser gerados 111.598 empregos formais e R$ 3,02 bilhões em renda (salários e lucro). A perda do governo federal em arrecadação chegou a R$ 2,81 bilhões – o suficiente para custear 1.522 escolas de ensino básico, 1.232 hospitais ou montar uma nova corporação para a Polícia Rodoviária, do mesmo tamanho da atual.
“Até hoje não contávamos com um indicador que nos apontasse como e o quanto crescem os crimes e seus efeitos negativos na indústria. Agora temos”, explica Skaf.
Skaf afirma que a presença e o crescimento da economia criminal são problemas públicos gravíssimos. “Isso tem um impacto econômico absurdo que afeta diretamente o setor produtivo (indústria e comércio), com perdas de empregos e investimentos, e sobretudo, o cidadão, que corre um risco ainda maior de ser vítima de crimes que alimentam o Mercado Ilícito Internacional (MIT) em São Paulo.”
“A sociedade está assustada com a violência e com a epidemia de roubos. Diariamente são roubados celulares em restaurantes, nas ruas, veículos nas portas das casas, vidas são perdidas. E para completar, além dos roubos e furtos, as empresas ainda precisam enfrentar contrabando, pirataria, falsificações de produtos, o que impacta negativamente a competitividade da indústria”, alega.
Skaf lembra ainda que além de todas essas dificuldades, a pressão constante do governo pelo aumento de impostos é uma solução ilusória, já que os produtos com altas cargas tributárias estão entre aqueles que mais sofrem a concorrência desleal dos produtos ilícitos, decorrente de roubos e contrabando. “Se houvesse de fato um combate efetivo à criminalidade, os governos não precisariam pensar em criar ou aumentar impostos como fonte de arrecadação.”
Mercados Ilícitos Transnacionais
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mercados ilícitos transnacionais são caracterizados por:
Oferta compartilhada, em escala regional ou internacional, de drogas, armas, produtos roubados, furtados, contrabandeados, de contrafação ou pirateados, que atentem a demanda interna ou externa do país destinatário, formando uma economia criminal transnacional. (Transnacionalidade, interdependência, além de relação lucro X violência).
Fonte: Agência Indusnet Fiesp