A chegada das redes 5G ao mercado brasileiro deve representar um mundo de novas oportunidades para as operadoras de telecom. Com a implementação das redes, estas empresas devem ampliar muito sua oferta de serviços, principalmente para o mercado corporativo. No entanto, isso não acontecerá sem que uma série de desafios sejam enfrentados.
Um dos principais, e imediato, é a falta de mão de obra qualificada no Brasil. Acostumadas a trabalhar com infraestruturas geralmente baseadas em uma única tecnologia, ou fornecedor, as operadoras terão que trabalhar agora com ambientes multivendor, o que vai exigir profissionais com múltiplas habilidades. Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada no ano passado pela Feninfra (Federação Nacional de Call Center, Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática) aponta que em curto prazo haverá uma demanda de 1,5 milhão de profissionais para trabalhar com redes 5G no Brasil e o mercado não terá profissionais capacitados para atender essa demanda.
Por isso, será importante que estas empresas busquem parceiros capacitados. A implementação das novas redes vai exigir conhecimento na implantação e orquestração de um ecossistema de nuvens híbridas e trabalhar em conjunto com integradores já acostumados a estes ambientes será importante para o cumprimento de prazos e SLAs exigidos pela ANATEL.
Em outra frente, estão as antenas. A estimativa é que um território hoje coberto por 4 mil antenas 4G, na nova tecnologia vai precisar de 7 mil antenas. Aqui, além da construção da nova infraestrutura e da contratação de profissionais para operar este parque, as operadoras terão que lidar também com as regulações locais, cujas aprovações, em muitos casos, podem levar mais de um ano.
Este último efeito deve ser amenizado pelo Decreto 10.480/2020, que definiu o prazo de 60 dias entre o pedido de instalação de antenas pelas empresas de telecomunicações e a autorização dos órgãos municipais. O não cumprimento do prazo permite que as empresas instalem a infraestrutura sem o aval municipal, desde que cumpram todas as normas de licenciamento.
Depois de encontrar profissionais qualificados e implementar suas redes, as operadoras também terão que buscar novas formas de monetizar suas redes 5G. Estamos falando de uma mudança grande no ambiente, que exigirá uma nova abordagem. Um estudo do IDC aponta que até 2024, as redes 5G no Brasil vão gerar cerca de US$ 22 bilhões de receita, principalmente por meio de oportunidades que aumentem seu uso, como internet das coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), que antes não eram massificadas justamente por falta de redes que as suportassem.
Estas tecnologias permitirão, por exemplo, a venda de planos para que empresas possam gerenciar suas frotas de carros autônomos por meio das redes 5G. Como este, existem vários outros exemplos que trazem consigo uma preocupação extra e outro desafio: segurança. Imagine que um ataque cibernético em um ambiente de IoT pode causar uma série de problemas, como suspender a energia de uma smart grid que use a rede 5G.
O fato é que ambientes IoT já são naturalmente complexos e com o 5G tendem a se tornar ainda mais. Garantir a segurança destes ambientes também vai depender de parcerias bem estabelecidas com integradores que tenham conhecimento em ambientes com esse nível de criticidade, e hoje existem poucos no mercado preparados para isso.
Com esta série de novos desafios a serem enfrentados, as operadoras de telecomunicações devem se tornar mais dependentes de parcerias com empresas especialistas. Elas não terão braço, ou conhecimento, para fazer a integração destes ambientes multivendor e, mais à frente, garantir sua segurança. Estamos falando de empresas que há décadas trabalham com um único fornecedor de rede e que, por isso, terão pela frente um enorme desafio cultural e de processos.
Trabalhar com as redes 5G vai exigir uma revisão de processos internos. Dificilmente uma operadora que vai implementar sua rede conseguirá desenhar, planejar e administrar essa nova rede sozinha. As maiores já perceberam isso e estão trabalhando para se adequar a essa realidade, preparando sua abordagem multivendor e realizando homologações nesse sentido.
Do lado dos integradores, há um movimento forte de capacitação profissional e montagem de times especializados para enfrentar os problemas que as operadoras trarão. Temos que ter em mente que a adoção massiva das redes 5G vai acontecer em médio prazo. Inicialmente as operadoras vão vender os planos móveis tradicionais, mas no momento em que eles começarem a se sofisticar, a demanda por parceiros especializados vai se intensificar, e temos que estar todos preparados.