Avaliação é que o ajuste do mercado de trabalho à retração da economia está longe do fim
SÃO PAULO – O processo de ajuste no mercado de trabalho ainda está longe de seu fim e o desemprego deve crescer com mais força no ano que vem e chegar ao pico no fim de 2016, acreditam economistas. E a piora tende a ser generalizada, castigando com força inclusive o setor de serviços, que nos últimos anos concentrou a criação de novas vagas.
— Ainda estamos na metade do ajuste e vamos viver uma situação em que a taxa de desemprego vai dobrar em relação ao seu patamar mínimo, que foi há pouco mais de um ano. É um ajuste bem severo — avaliou Marcelo Kfoury, superintendente do Departamento Econômico do Citi Brasil.
A menor desemprego no país foi registrada em junho do ano passado, 4,8%. Agora, a taxa está em 7,6%. Na projeção do Citi, o ápice será a partir do terceiro trimestre do ano que vem, quando o índice deverá chegar a 9,4%, ou seja, o dobro da mínima histórica em pouco mais de dois anos. Kfoury compara essa evolução ao que aconteceu nos Estados Unidos, quando o desemprego dobrou entre o fim de 2007 e 2009.
Já nas contas do Santander, o auge do desemprego será em outubro de 2016, com taxa de 9,5%. Mas desconsiderando os efeitos sazonais, o pico será em fevereiro de 2017, quando chegará a 10,4%, para então começar a recuar.
— Estamos em um quadro recessivo há algum tempo, mas os empresários esperam um pouco para tomar a decisão de demitir, já que os custos demissionais e também de contratação e treinamento são elevados — avalia Rodolfo Margato economista do Santander.
Juan Jensen, professor de economia do Insper, diz que esse processo era previsto.
— Primeiro a empresa adota férias coletivas, depois faz acordos como o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e depois ocorre a demissão de fato.
Para os economistas, no entanto, o ajuste no mercado de trabalho tem seu lado positivo, inclusive para conter a inflação, via queda de consumo.
— Por mais perverso que possa parecer, era necessário um ajuste. Perdemos participação na indústria, porque ficamos caros, com a renda amentando mais que a produtividade — afirmou Kfoury.