O multifacetado arquiteto que vive há 10 anos entre São Paulo e Shangai explora acessibilidade, conectividade, sustentabilidade, identidade e humanidade como diferencial para os seus projetos
Sala da casa do arquiteto na China, que faz parte do livro The most beautiful rooms in the world. Assinado pela editora estadunidense Rizzoli, e que traz os melhores projetos reportados pelas AD Magazine mundiais.
Vivendo em dois mundos completamente diferentes, o arquiteto Fernando Brandão atua no Brasil e na China, o que permite reconhecer, criar e se inspirar no que há de melhor nos dois países. Em seu currículo, agrega o fato de ser o único arquiteto brasileiro a ter um escritório em território chinês. Além disso, atua também como professor do núcleo de arquitetura internacional de duas das maiores universidades do país, fatores que levam Brandão a enxergar além do convencional e fugir do óbvio em seus projetos.
Além dos quase 40 anos de atuação no Brasil, já que se formou em arquitetura e urbanismo em 1983 (pela Universidade Católica de Santos) já são 10 anos trabalhando e circulando pela China, país que visitou 42 vezes e teve a possibilidade de mergulhar na cultura do país, ao visitar 120 cidades, onde participou de palestras, workshops e realizou projetos, consultorias e assessorias. “Nesse tempo de vivência na China, me adaptei às lacunas no vocabulário e repertorio chinês, tive um trabalho peregrino e percebi que o diferencial estava em vender cinco conceitos importantes dentro da arquitetura: acessibilidade, conectividade, sustentabilidade, identidade e humanidade”, revela o arquiteto.
Em resumo, o arquiteto baseia o seu trabalho nesses cinco pilares, onde defende que a acessibilidade está ligada ao conceito de design universal, conectividade e o discurso pelo uso de uma tecnologia “friendly”, sustentabilidade e o entendimento dos recursos finitos, identidade pelo entendimento do passado para vislumbrar o futuro e humanidade fazendo entender o todo. Como resultado desse trabalho completo e diferenciado, Fernando Brandão acumula uma extensa lista de premiações e reconhecimento, no Brasil e mundo afora. “Em 2019 fui incluído no Anuário Chinês de Arquitetos e designers e também reconhecido pela revista AD China entre os 100 arquitetos mais influentes da China”.
Não é só na forma que emprega a arquitetura para sair do lugar comum, que Fernando Brandão, docente em instituições internacionais, busca experimentar e elevar o nível dos estudantes, enfatizando ao ensinar a ir além da herança cultural e fugindo de “caixas” beges. “Procuro elevar o conhecimento dos jovens, pois sinto que as novas gerações perdem oportunidades de aprender com as vidas dos mais experientes achando que o mundo é restrito à respostas do Google. A arquitetura e a forma de criar precisam ir além”.
O arquiteto enxerga o Brasil à frente quanto a formação, que é mais completa e generalista que da China, e também é mais avançada no que diz respeito a questões de sustentabilidade e acessibilidade, e por isso, sua arquitetura é diferenciada em terras chinesas. “nosso raciocínio arquitetural é holístico. Nesse sentido acredito que temos a vantagem para enfrentar o futuro”. Porém, a sociedade chinesa está rica e poderosa, o que permite ter maior e melhor acesso ao que o mundo oferece.
No quesito cor, o arquiteto também revolucionou a arquitetura na China – e no Brasil também usa cores como poucos. Embora a China antiga fosse bem colorida e explorasse bastante as nuances, atualmente não é mais assim, a cor está ligada aos imperadores e a população não se conecta como deveria, mesmo tendo uma relação forte com a natureza. “E surpreendo os chineses por criar uma arquitetura lúdica, divertida, bem-humorada, que conta uma história”, explica Brandão.
Atualmente, no Brasil, está à frente das reformulações das novas lojas da Livraria Cultura, e encara o desafio de conquistar os novos leitores. E essa vivência nos dois países permite que o arquiteto faça uma conexão profunda, com um olhar único de quem conheceu a fundo duas culturas e costumes. Assim, Fernando Brandão se inspira no que há de melhor dos dois mundos, e cria uma nova forma de projetar ambientes a fim de valorizar a arquitetura que vai muito além da beleza.
