Enquanto algumas vozes argumentam que o contexto socioeconômico em que nascemos determina em grande medida nossa prosperidade futura, outras defendem que o esforço e a perseverança podem impulsionar o crescimento de um indivíduo quando eles realmente se propõem a fazê-lo. Sob o meu prisma, existe um ponto de encontro entre essas duas posições aparentemente irreconciliáveis. De modo geral, uma pessoa que foi criada em um ambiente econômico desfavorável terá que lutar muito mais do que alguém que tem suas necessidades materiais amplamente resolvidas. No entanto, o cenário muda quando temos ferramentas que, de alguma forma, possibilitam maior acesso às oportunidades. Esse é um dos grandes desafios que temos pela frente na América Latina.
O valor da educação como fator de equalização é amplamente destacado. Quantos nos explicaram como administrar a poupança ou os diferentes instrumentos disponíveis para gerar rendimento de capital? Alguém nos ensinou conceitos básicos como liquidez, risco, lucratividade ou diversificação? A independência financeira é um princípio elementar para alcançar a autonomia e temos que começar a educar as crianças nessa direção.
Um estudo recente realizado pela área de pesquisa do Google revela que 4 entre 10 brasileiros que não investem querem aprender sobre o tema, e 38% dos entrevistados pretendem começar a investir quando tiverem mais dinheiro. Isso mostra que os brasileiros estão cada vez mais interessados em ampliar seus conhecimentos sobre finanças pessoais e investimentos.
Nesse sentido, celebro os passos que as mulheres estão dando em direção à sua independência econômica. De acordo com um estudo da Finnovista e do BID apresentado no ano passado, globalmente a proporção de startups de fintech que têm uma mulher na equipe fundadora é de 7%, mas na América Latina, 33% são cofundadas por mulheres.
Outro dado que mostra que as mulheres estão cada vez mais interessadas em aprender a investir e a conquistar sua independência financeira é o número de mulheres que investem na na Bolsa de Valores. Levantamento feito em setembro pelo B3 indica que 779.378 brasileiras são atuantes nesse segmento, o que corresponde a 25,42% do total de investidores cadastrados, o maior percentual da história no país.
Esses dados são encorajadores para as novas gerações, especialmente porque as finanças e o mercado imobiliário têm sido mercados predominantemente masculinos. E isso tem a ver, em parte, com um aspecto cultural. Historicamente, os recursos econômicos das famílias estavam nas mãos dos homens, embora, aos poucos, percebamos uma mudança gradativa. Essa tendência levou a um papel mais passivo das mulheres nas decisões econômicas e financeiras.
Não é minha intenção entrar em longos debates sobre este último ponto, mas sim, olhar para o futuro e destacar todas as transformações que estão ocorrendo, embora ainda haja muito por fazer. A tecnologia oferece hoje instrumentos de investimento fáceis e ágeis, como o crowdfunding imobiliário, que permite a uma pessoa ingressar no Imobiliário, setor geralmente reservado a pessoas físicas com muitos recursos econômicos, com valores muito baixos (a partir de US$ 1 mil). As mulheres têm que começar a familiarizar-se cada vez mais com esses tipos de ferramentas que permitem gerir seus rendimentos e poupanças com maior autonomia, bem como se envolver em empregos e empreendimentos que sirvam para promover a mudança e inserir as mulheres no mercado de trabalho, especialmente no mundo das finanças.
Em um mundo cada vez mais globalizado, as ferramentas tecnológicas estão quebrando fronteiras e abrindo portas. Essa também é uma oportunidade para mulheres que buscam independência financeira.