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A importância do erro no processo de aprendizagem Por: Sandra Medeiros é jornalista, especialista em educação a distância e gestão estratégica de RH

Errar é humano e faz parte do processo de aprendizagem. O que parece ser mais uma frase clichê é, na verdade, o segredo do sucesso de algumas empresas. O Google, por exemplo, trata seus erros em reuniões estruturadas com o propósito de avaliar cada um deles com a equipe. Na Coca-Cola, os colaboradores são incentivados a superar o medo do fracasso. “Se não cometermos erros, é porque não estamos nos esforçando o suficiente”, declara o CEO da empresa, James Quincey. Já o CEO da Amazon, Jeff Bezos, atribui boa parte do crescimento e da inovação de sua empresa a falhas: “Se você vai fazer apostas corajosas, serão experimentos. E, se são experimentos, você não saberá previamente se vão mesmo funcionar. Eles são por natureza propensos aos fracassos. Mas o fato é que alguns grandes sucessos compensam dezenas e dezenas de coisas que não funcionaram”. Essas declarações estão em uma matéria publicada no site da Época Negócios, em 2017.

O que esses grandes CEOs têm a nos ensinar é que sem erro, não há inovação, não há criatividade. O problema é que, no Brasil, as escolas matam essa criatividade. Basta analisar rapidamente nosso sistema de avaliação que “pune” o aluno pelas respostas erradas, e aqui o conceito de errado é bem relativo. Depende do gabarito oficial que a instituição de ensino preparou. E há aquelas avaliações onde uma resposta errada anula uma certa! Ou seja, não basta punir pelo erro, você vai pagar também pelo acerto. Somos ensinados a pensar dentro da caixa. Qualquer ideia fora desse quadrado, é errado, é incorreto, é punição na certa!

Lembro-me de um professor de História que tive na minha oitava série, conhecido como Zelão. Suas aulas eram uma avalanche de ideias e debates calorosos. No dia da prova, sempre uma surpresa. Nada de questões verdadeiro ou falso, marque a alternativa correta, complete a segunda coluna de acordo com a primeira… Na folha de avaliação, instruções do tipo: “Forme um grupo e faça uma composição musical que retrate o contexto da Guerra Fria”. Se tivesse alguém que tocasse algum instrumento, melhor ainda! E era aquela correria, aquele frio na barriga, a gente se sentia num teste para Rede Globo. Numa outra, tínhamos que fazer uma redação inspirada nas palavras de Carlos Drummond de Andrade: “A bomba é uma flor de pânico apavorando os floricultores (…). A bomba não destruirá a vida, o homem (tenho esperança) liquidará a bomba”. Em outra avaliação éramos repórteres enviados para cobrir a Primeira Guerra Mundial e tínhamos que escrever um artigo, abordando alguma vertente do conflito, para ser publicado num jornal de grande circulação.

Onde estão os “Zelões” da vida? Onde está esse sistema de avaliação (e de ensino) fora da caixa, que faz os alunos pensarem, exercitarem sua criatividade, despertarem seus dons e talentos, superarem o medo de errar? Depois da oitava série, eu nunca mais encontrei…

O problema é que este nosso sistema ultrapassado e engessado de ensino forma profissionais para o mercado de trabalho. E eles chegam nas empresas com medo de errar. Se fizer tudo certo, se seguir as regras e as políticas da organização, o colaborador pode até ser promovido ou, no mínimo continuar com o emprego garantido. Agora, se errar, vai ter advertência, punição, suspensão e até justa causa! Então, meus amigos, para que arriscar?

Não me surpreendo com tamanha mediocridade na maioria das empresas brasileiras hoje em dia, sejam elas de grande, médio ou pequeno porte. Quando digo mediocridade é pelo fato de os colaboradores não serem incentivados a ousar, a tentar, a pensar fora da caixa. Há tanta regra, política, código disso e daquilo que é melhor fazer o que está escrito (sem questionar!) para garantir o emprego nosso cada dia. Isso é triste! Conheço pessoas com potenciais imensos, mas totalmente subestimadas pela “cultura errada do erro”.

Refletir sobre o papel e a relevância do erro no nosso dia a dia (seja no ambiente acadêmico, no corporativo ou mesmo na vida pessoal) é uma cultura que, infelizmente, ainda precisamos criar. Eugênio Mussak, professor e empresário, durante um evento de RH, em 2018, apontou um caminho viável para iniciar essa cultura, que está relacionada ao resgate de nossa criança interior (antes dela ser matriculada numa instituição de ensino…). Segundo ele, precisamos estimular nossa curiosidade, muito comum entre os 3 a 5 anos de idade (famosa fase dos “por quês”). Junto com ela, precisamos deixar aflorar nossa transgressão, porque, segundo Mussak, “sem ela, não há evolução”. Em resumo, o caminho é este:

Curiosidade + Transgressão = Criatividade + Gestão = Inovação + Implementação = Novos Negócios.

Parece simples. E pode até ser, desde que não tenhamos medo de tentar. E se der errado, tentar de novo.
Instituições de ensino e empresas precisam entender que o erro é próprio da condição humana. E aprender também. “Na verdade, o erro só é erro quando não é percebido; quando é, torna-se aprendizado. Sem essa percepção, você corre dois riscos: o de continuar repetindo seus erros sem aproveitá-los para evoluir, ou de parar de tentar por medo de errar”, esclareceu Mussak.

Sandra Medeiros é jornalista, especialista em educação a distância e gestão estratégica de RH. Responsável pelo blog EaD em Pauta (www.eadempauta.com.br). Reside em Vitória, onde atua com Educação Corporativa e como Consultora Associada da Lince Psicologia e Gestão (http://lincepsicologia.com/).

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