Pelo segundo ano consecutivo, a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) realizou estudo sobre as perdas do varejo brasileiro com apoio e colaboração do Portal Prevenir Perdas.
A pesquisa teve como objetivo conhecer o comportamento das perdas de estoque em toda a cadeia de valor do varejo ( lojas e centros de distribuição) durante o ano de 2016 em diferentes setores além de outros indicadores estratégicos como ruptura e acurácia de estoque.
O estudo teve uma amostra bastante qualificada pois todas as empresas respondentes possuem algumas características comuns: 1) fazem parte da CPAR (Comissão de Prevenção de Perdas, Auditoria e Gestão de Riscos (CPAR); 2) nível de maturidade em gestão de perdas acima da média do mercado; 3) equipe responsável pela gestão das perdas através da adoção de boas práticas de prevenção.
A pesquisa contou com a participação de 64 empresas varejistas com 12.000 pontos de venda distribuídos em 12 estados brasileiros.
A pesquisa revelou índices de perdas de estoque em 8 diferentes setores do varejo, apresentando uma queda da perda média em relação ao ano anterior. Em 2017 a perda média apurada do varejo brasileiro foi de 1,32% (Perda de estoque valorizada pelo custo sobre a venda líquida) contra 1,40% de 2016.
O Setor Supermercadista teve forte influência nessa redução média em razão de sua significativa melhora em relação ao ano anterior e relevância na economia. Na pesquisa desse ano o índice apurado foi de 1,97% contra 2,26% de 2016.
Nos últimos anos foi possível observar que o setor supermercadista vem tratando a prevenção de perdas de forma bastante prioritária. A principal mudança ocorreu exatamente no topo da pirâmide com o entendimento da Diretoria Executiva das empresas que uma gestão de perdas de forma estratégica, pode aumentar a rentabilidade da empresa. Essa visão proporcionou maiores investimentos em tecnologias, na formação de equipes, programas internos, entre outros. Essas empresas estão conseguindo superar melhor a crise com uma melhor performance.
Outro ponto de destaque na pesquisa foi o impacto das quebras operacionais na perda total. Os setores supermercados, drogarias e livrarias tiveram perdas identificadas em percentual superior a perdas não identificadas. Embora o cenário tenha piorado em relação ao ano anterior, a solução para o problema está dentro de casa, pois avarias de produtos, vencimento, excesso de compra são questões relacionadas a processos internos, que quando bem gerenciados, podem influenciar na redução de perdas em curtíssimo prazo.
Dentro das principais causas de quebras operacionais, metade dessas perdas são atribuídas a vencimento de produtos. O principal vilão do desperdício na verdade não é uma causa e sim uma consequência, pois o vencimento do produto pode ocorrer por diversas falhas nos processos, tais como: 1) falhas no planejamento de compras e distribuição; 2) recebimento de produtos em data critica; 3) produtos esquecidos no estoque da loja; 4) brigada de validade não realizada e/ou ineficiente entre outros motivos.
Nesse quesito destacam-se supermercados e drogarias. O grande desafio é o de evitar situações que podem gerar o descarte do produto. A prevenção de perdas vem trabalhando lado a lado com as áreas de Supply das empresas para atuar de forma preventiva, isto é, melhorando todo o processo de planejamento de estoque de acordo com as expectativas de demandas através de ajustes de parâmetros de abastecimento/reposição, controle mais efetivo na produção e quando isso não é possível, ainda assim, uma política agressiva de markdown pode evitar o descarte total do produto mesmo que isso provoque uma redução da margem
Impacto dos vencimentos em Supermercados:
A pesquisa de 2017 também abordou o conceito da Perda Ampliada ao questionar os varejistas sobre o custo de oportunidade pela indisponibilidade do produto na área de vendas particularmente conhecida como Ruptura.
Foram conhecidos 2 tipos de Ruptura: 1) Ruptura de Estoque, quando o produto está armazenado na retaguarda da loja porém, em razão de falhas operacionais, não encontra-se exposto e disponível na área de vendas das lojas; 2) Ruptura da Loja, quando há previsão em planograma da disponibilidade permanente do produto, porém não há estoque físico na loja
A Ruptura de Estoque média para todos os segmentos foi de 9,99% e a Ruptura de Loja média apurada foi de 9,08%, como foi o primeiro ano de consulta, não foi possível fazer comparações.
As perdas financeiras também tiveram um impacto importante nos resultados das empresas em 2016 e continuam em 2017, seja através do Roubo de Carga que é um dos grandes desafios das empresas ou pelo Furto Qualificado e Roubos de numerários. Os setores mais afetados foram Drogarias e Eletromóveis em razão do valor agregado dos produtos, atratividade e mercado informal
A Perda média da modalidade Roubo de Carga foi de 0,38% sobre o faturamento líquido das empresas, seguido do Furto Qualificado de produtos e numerários com representatividade de 0,24% do faturamento líquido e Roubos de numerários e produtos tiveram impacto de 0,16% do faturamento líquido das empresas varejistas.
Todas essas perdas somadas, geram um impacto direto na lucratividade do varejista, diminuindo sua competitividade. Com a redução das margens, as empresas são obrigadas a repassar no preço os prejuízos de perdas não controladas, o que pode gerar a “fulga” de clientes para a concorrência, gerando um RISCO para sustentabilidade do negócio.
Esse cenário de RISCO vem sendo encarado por muitas empresas como uma grande OPORTUNIDADE de melhorar sua performance e resultados. Empresas que possuem um nível maior de maturidade em Prevenção de Perdas perceberam que boas práticas de gestão podem contribuir significativamente com o aumento da lucratividade. Ouso a dizer que Boas Práticas de Prevenção de Perdas são o caminho mais rápido para obtenção do lucro em cenários de retração econômica, pois boa parte das causas são geradas por ineficiência nos processos e portanto, são variáveis internas de controle dos varejistas, diferentemente do esforço em aumentar as vendas que dependem da combinação de diversos fatores externos e internos.
Minha expectativa para a próxima pesquisa que será realizada em 2018 é de continuidade da tendência de queda, não só para o setor supermercadista mas também para os demais setores pesquisados. É notório o desenvolvimento da Prevenção de Perdas no Brasil, praticamente todos os grandes eventos do varejo realizados em 2017 tiveram um painel para a discussão sobre o tema, isso mostra relevância e entendimento das empresas quanto aos benefícios para o negócio.
Tive como objetivo nesse artigo, fazer uma leitura básica da pesquisa nos Indicadores Gerais. A pesquisa completa apresenta informações separadas por setor. O download pode ser realizado através do link http://www.prevenirperdas.com.br/portal/ferramentas/indices-do-varejo/114-2-pesquisa-perdas-no-varejo-sbvc.html
Boas vendas! Boa Prevenção!
CARLOS EDUARDO SANTOS é Executivo com mais de 20 anos de experiência no Varejo em Prevenção de Perdas, Auditoria, Gestão de Riscos, Segurança Empresarial, Compliance e Controles Internos;
Presidente da Comissão de Prevenção de Perdas, Auditoria e Gestão de Riscos (CPAR) da SBVC – Sociedade Brasileira do Varejo e Consumo;
Professor na Fundação do Instituto de Administração – FIA, PROVAR – Programa de Administração de Varejo e Fundação Dom Cabral;Autor do Livro : Manual de Planejamento de Prevenção de Perdas e Gestão de Riscos;
Co-Autor do Livro : Manual de Varejo no Brasil;
Foi Diretor e Executivo em grandes empresas varejistas como Walmart, Lojas Marisa e Lojas;
Autor do Livro : Manual de Planejamento de Prevenção de Perdas e Gestão de Riscos;
Criador do Portal Prevenir Perdas (www.prevenirperdas.com.br);
Graduação em Administração de Empresas e Ciências Jurídicas e MBA em Gestão de Riscos e Segurança Empresarial.Atualmente é Diretor de Prevenção de Perdas e Inovação na Tyco / Johnson Controls