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Empresa com trabalho flexível. Isso é bom ou ruim para as empresas?

 

 

* Por Dobson Ferreira Borges

 

Imagino que a grande maioria dos viventes neste mundo sabem que os negócios experimentam dias cada vez mais complexos e, por consequência, mais desafiadores e, até mesmo, imprevisíveis.

Pode até parecer irônico, mas a maioria das pessoas, por estarem obtusas e encarceradas em seus trabalhos, não percebem que o modelo de gestão aplicado aos negócios em pleno século XXI, foi projetado, pasmem, a dois séculos atrás, para suprir duas principais deficiências da época: eficiência e produtividade, em larga escala. Só para se ter uma ideia, naquela época, o modelo foi desenvolvido sob a crença de que todo trabalhador era exclusivamente influenciado por recompensas salariais, econômicas e materiais, por isso, rotulado de ‘homo economicus’.

Afinal, o que está acontecendo no mundo dos negócios? Dentre inúmeras possibilidades de respostas, espero que concorde comigo que há uma grande e grave desconexão entre a velocidade com que as mudanças têm acontecido no mundo, com a lentidão da evolução das práticas de gestão e com a forma como lidamos com os serem humanos. Esta desarmonia tem desperdiçado quantidades imensas de imaginação e iniciativas humanas.

Neste entremeio, recordo-me de uma história ocorrida na 3M. O ex-chefe de pesquisa e desenvolvimento conta que num determinado momento, um gerente de recursos humanos, tentando mostrar serviço, ameaçou demitir um cientista que ele flagrou dormindo debaixo da bancada de trabalho. Diante desta inusitada situação, o diretor levou o gerente até a “Parede de Patentes”  e lhe mostrou que o cientista adormecido havia desenvolvido alguns dos produtos mais lucrativos da empresa. Por fim, o chefe aconselhou-o: “da próxima vez que o vir dormindo, pegue um travesseiro para ele, cubra-o e o deixe em paz”. Na posição deste ex-chefe, você agiria da mesma maneira?

Toda esta introdução foi feita por acreditar que o momento que vivemos grita por um novo modelo de gestão e de liderança. Definitivamente, é preciso aprender a inspirar os trabalhadores do conhecimento para que deem o melhor de si, todos os dias. Não somos ligados às 08h e desligados às 18h, como máquinas. Não somos preguiçosos por natureza e não é somente o dinheiro que nos motiva. Não, não e não! Até quando prevalecerá o triunfo da cenoura e do chicote?

Assim, faço das perguntas do guru em inovação Gary Hamel, as minhas: Como as empresas mais bem-sucedidas de amanhã serão organizadas e administradas? O que será diferente na maneira como as empresas gerenciam a capacidade, distribuem recursos, desenvolvem estratégias e avaliam o desempenho?

É, no mínimo razoável, admitir que algumas pessoas são mais criativas e produtivas em determinados momentos e horários. Isso depende de cada ser humano, inclusive, muitas vezes influenciados pelo funcionamento do seu organismo. De mesma forma que o cientista da 3M estava dormindo em plena hora do ‘rush’, quem duvida que algumas pessoas se sentem mais produtivas pela manhã, ou quem sabe à tarde, ou durante a noite e até pela madrugada a dentro.

Se, o que cada organização espera de seus colaboradores é que agreguem valor aos negócios nos quais ‘prestam’ serviços, seria loucura esperar que o líder conhecesse profundamente cada membro de sua equipe ao ponto de, juntos, estabelecessem quais horários eles têm maior propensão de realmente fazer a diferença? Seria este o tabu a ser quebrado?

Ao observar as empresas mais exitosas descobrimos que são elas que mais rasgam os antigos manuais de gestão. Elas insistem em remar contra a maré, fugindo da commoditização, institucionalizando políticas não ortodoxas, para o antigo molde gerencial. Seja como a regra dos 15% da 3M, ou as ‘Experiências de Sexta à Tarde’ da Corning ou ainda os 20% do Google, algumas empresas conseguem se destacar neste mundo de mesmice. Afinal de contas, somos ávidos por empresas que irradiam distinção! Nós as seguimos, a amamos e estamos dispostos até a pagar mais para tê-las conosco, seja como consumidores ou como trabalhadores.

Então, se as pessoas são as grandes responsáveis pelas transformações no mundo, o que se tem feito para que realmente elas se sintam assim? Ao analisar as melhores empresas para se trabalhar, alguns benefícios, inclusive, fora da normalidade, chamam a atenção. Desde planos de saúde e assistência odontológica, até licença-paternidade ou trabalho remoto e horário flexível, agradam, e muito, os colaboradores destas instituições. Aliás, às vezes, são tantos os benefícios que as pessoas nem se lembram de todos. Em algumas delas, a lista ultrapassa trinta itens.

No caso específico da jornada de trabalho com horário flexível, dentre as 150 melhores empresas para se trabalhar, as tentativas de tentar satisfazer os colaboradores, vão desde escolher chegar mais tarde ou sair mais cedo, até a total liberdade na hora do ir e vir. E isso sem falar no encurtamento das sextas-feiras, não é mesmo?!

Com certeza este é um dos desafios que deve ser enfrentado pelos líderes do século XXI. Talvez, um modelo novo de como se organizar os seres humanos se faz mais necessário hoje do que qualquer outra coisa.

Nossas empresas estão preparadas para isso? Por trás de uma implementação de horário flexível nas empresas, inúmeras perguntas eclodem em nossas mentes: existe amparo legal? Como tal iniciativa iria ressoar internamente? Isso se aplica a todos os colaboradores? As organizações e os respectivos colaboradores têm maturidade suficiente para flexibilizar o horário de trabalho? As respostas a estas reflexões ajudarão a definir se esta iniciativa é realmente bom ou ruim para as empresas. Por fim,  fica aqui uma advertência: a sua resposta não pode ser generalizada para todas as organizações, mas a correta decisão poderá fazer uma grande diferença!

* Dobson Ferreira Borges é CEO da Simeon Estratégia e Desenvolvimento. Formado em Administração de Empresas, Especialista em Gestão Estratégia de Marketing, Mestre em Gestão de Empresas e está se doutorando em Ciências Empresariais. É autor dos livros ‘A Espiritualidade das Organizações: a espiritualidade das pessoas e seu impacto nas organizações’, do ‘A Alma do negócio: integrando gestão e espiritualidade’ e do ‘Os Es da Gestão: Estratégia, Execução, Excelência e Espiritualidade’. É um conceituado professor de Estratégia nos cursos de MBA e de pós-graduação de importantes instituições brasileiras e professor associado da ESADE Business School, que está entre as quatro melhores escolas de educação executiva do mundo. É palestrante nas áreas de Estratégia, Liderança e Espiritualidade nas Organizações, sendo requisitado no Brasil e Exterior. (www.simeon.com.br)

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